O romance histórico contemporâneo e as chamadas maria-rapaz estão um para o outro tal como os cereais estão para o leite. Seria, assim, tentador ver A Evolução de Calpurnia Tate como mais um livro nesta longa linha de mulheres carismáticas, fortes, pouco condicionados aos seus papéis femininos. Tal é verdade, e ao mesmo tempo não o é. Sem dúvida que Calpurnia revolta-se com as restrições do seu tempo, mas esta escritora estreante, Jacqueline Kelly, deu-nos um vislumbre intrigante de uma rapariga que possui aquilo que o seu tempo não lhe parece querer interditar: ambição.
Começamos em 1899 e a jovem de onze anos, Calpurnia Tate é a única filha de uma família de seis irmãos. E é amplamente ignorada até ao dia em que faz uma pergunta ao seu avô: de onde vinham os enormes gafanhotos amarelos que aparecerem naquele Verão invulgarmente quente? O avô, uma figura imponente que as crianças normalmente evitavam, apenas lhe diz que tem a certeza de que ela conseguirá descobrir isso sozinha. Mas só quando realmente começa a fazê-lo ele demonstra particular interesse nela. Pouco depois Calpurnia está a caminho de se tornar numa naturalista. O seu avô ensina-lhe sobre a evolução e o mundo natural, o que é maravilhoso, mas não é propriamente o género de coisas pelas quais uma rapariga da idade dela deveria se interessar ou aprender. Entre as aventuras que envolvem os seus irmãos, amigos, e toda uma nova espécie de plantas, Calpurnia, tem de centrar-se no que ela é e aquilo que o mundo espera que ela seja. Jacqueline Kelly prefacia cada capítulo com uma citação da Origem das Espécies de Darwin.
Ora, a personalidade feminina não surge do nada. O que nos encanta na Calpurnia, ou como é chamada, Callie, é que ela é diferente porque recebeu a atenção e o interesse de um avô que não a trata apenas como uma rapariga com inteligência, mas como uma igual. Muitas vezes isto torna-se em algo cómico, como quando ele lhe oferece a provar uma aguardente, mas na maior parte das vezes é exactamente aquilo que o cérebro de Callie precisa. E este livro torna-se quase num livro de mistério, de detective quando nos vemos Callie a prosseguir questões científicas (como por exemplo qual é aquela criatura flutuante no escritório do avô) e a forma como aborda e soluciona um problema. Com o encorajamento do avô, ela absorve toda a sua atenção e conversas inteligente e, desta forma, vai desabrochando, (até por que ela até nem tem muito jeito para os objectivos femininos normais daquela época). E é aquilo em que ela está a desabrochar que parece perturbar a sua mãe.
Tudo isso Callie terá de ultrapassar, e o final do livro deixa-nos nos lábios o desejo de uma sequela. Em conclusão Jacqueline Tate conjurou uma história original e maravilhosa, em que pega numa rapariga da viragem do século e a transforma em alguém que qualquer um de nós pode admirar. Para ler, encantar e recomendar.
Editora: Contraponto
Páginas: 248
Género: Romance/Aventuras
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