Uma vez mais, Juliet Marillier criou uma bela história situada no mundo pagão que inventou na Filha da Floresta. Este romance, que segue o verão que Sibeal, a jovem vidente de enorme talento que conhecemos no volume anterior, passa na ilha onde vive o seu primo Johnny antes de receber os seus votos finais. Quando um navio é destruído ao largo e os estranhos sobreviventes dão à costa, as crença e o talento de Sibeal são postos à prova de uma forma que não poderia ter previsto.
É uma história que decorre num ritmo lânguido e que se desenrola delicadamente. É contada sob dois pontos de vista, o da Sibeal e o do náufrago, Félix. É uma história sobre o despertar espiritual, emocional e físico.
Extremamente comovente e sempre viciante, Marillier prende os seus leitores e conduz-nos de forma privilegiada e introspectiva ao mundo interior dos personagens principais. Sentimos o que eles sentem, compreendemos as suas motivações e dúvidas pessoas e, desta forma, relacionámo-nos com eles de um modo que é muito pessoal, íntimo mesmo, e que assegura que ficamos junto deles ao final.
Ainda assim a história também nos confere oportunidades para reflectirmos. Damos por nós a fazer uma pausa e a considerar as palavras e as acções dos personagens de forma que não costumamos normalmente fazer. Algo que, possivelmente advirá do conhecimento que Marillier nos dá sobre os druidas e os tempos pagãos que ela infunda nas histórias e que nós, leitores, ao longo das diferentes obras da autora vamos assimilando. Uma tomada de consciência de uma vida interior que ressoa pela história fora. A acuidade história e encenação dos das práticas e crenças druidas, já para falar das dos curandeiros e guerreiros e de outros elementos que fazem parte da vida comunitária. É algo de fascinante e adiciona níveis à história e aos personagens, bem como localiza a história num tempo já esquecido.
Assim, quando Sibeal e Félix levam a cabo uma perigosa missão, somos levados a deambular por numa alternativa e maravilhosa tapeçaria de crenças que está próximo da sua extinção. Muitos dos personagens que já conhecemos e adoramos reaparecem neste volume, e nos é dado a conhecer mais sobre as suas vidas e ambições, e acompanhámo-los à medida que o futuro se desenrola.
Há sempre algo de imensamente prazenteiro num livro de Marillier. Após o lermos temos sempre uma sensação de paz que poucos livros nos conferem. É como, tal como Sibeal, quisemos descobrir uma lagoa negra ou um espaço tranquilo onde podemos simplesmente contemplar sossegadamente durante algum tempo. Alcançarmo-nos, alcançar o nosso passado e compreender o futuro.
Mas regressando à história da Vidente de Sevenwaters, este romance que pode ser lido de forma isolada tem necessariamente uma natureza diferente da trilogia original. O cenário remoto, distante e ominoso de Inis Eale, instila um tom sublime e misterioso como de qualquer livro de Sevenwaters. Embora custe não ter saudades do lago e da floresta de Sevenwaters, o enfoque no folclore está tão bem escrito que nos transporta completamente e bafeja-nos com algo de novo e refrescante.
Talvez mais importante, a profundamente espiritual e intuitiva Sibeal é exactamente o tipo de personagem com quem conseguimos imediatamente relacionarmo-nos, algo que atribuímos inicialmente às suas crenças muito enraizadas espiritualmente mas percebemos que o cerne das suas lutas interiores – a batalha entre o coração e a mente – é universal.
Na outra metade do livro em que temos a perspectiva de Félix, que é um personagem distinto, tem uma personalidade mais filosófica, o que é algo distinto do habitual protagonista masculino de Marillier, que é invariavelmente um guerreiro, lavrador ou mercador. Félix complementa Sibeal assim como vê além do seu exterior mais frio para encontrar uma jovem com sentimentos e paixões. Os obstáculos que Sibeal e Félix têm de vencer parecem menos pesarosos do que aqueles colocados sobre Red e Sorcha ou Bran e Liadan, mas, ainda assim, a sua relação é tão obstinada e sincera. Em cima de tudo isto são lançadas as sementes para uma futura e inevitável confrontação entre Cathal e Mac Dara em próximos livros e um vislumbre da ravina do Homem Pintado, do Filho das Sombra.
Em conclusão a Vidente de Seventwaters é um valioso e prazenteiro romance da série que mantém a qualidade elevada que Marillier se propôs ao escrever fantasia histórica.
Editora: Planeta Manuscrito
Páginas: 416
Género: Fantasia
Queria tanto, mas tanto ler esse livro... A filha da Floresta foi o livro que mais gostei de ler :)
ResponderEliminarO meu conselho é que não percas tempo!
ResponderEliminarTodos os livros dela são fantásticos e este não é excepção.
Obrigada pela visita!