Hotel du Lac é uma obra que me surpreendeu. As primeiras duas vintenas de páginas, apesar de serem belamente escrita por vezes são um pouco sinuosas, perdendo-nos frequentemente na acção. Todavia a um dado momento damos por nós dentro de uma história tranquila e contemplativa.
Edith Hope é uma romancista que escreve sob um pseudónimo – ela tem algum sucesso mas, ela escreve sobre sentimentos e acontecimentos que nunca teve e não está certa se alguma vez terá. Ela é uma mulher privada e recatada que não se integra muito bem no seu grupo de amigos.
Assim, após um escândalo, Edith retira-se da sociedade londrina para um peculiar e sossegado hotel na Suíça.
Lá ela encontra um leque variado de personagens que inicialmente se assemelham no seu desinteressante, tanto que nos deixam logo com a suspeição que há algo por detrás disso. E acabamos por ser conduzidos a cada um deles, às suas nuances, às suas personalidades ora tristes ora destrutivas. Enquanto um outro personagem, a Mrs. Pusey, causa desde logo uma boa impressão em Edith por ser amável e atenciosa, mas que rapidamente se torna claro que ela tem as mesmas falhas e fragilidades dos outros hóspedes. Afinal, porque estão todos eles apartados das famílias e dos amigos, num hotel, durante a época baixa?
Não podemos esperar um turbilhão de acontecimentos desta obra que venceu o Booker Prize de 1984, mas o que podemos aguardar é um debate tranquilo, um estudo sobre a perspectiva de quem escreve sobre aqueles que conhece e com quem interage, tendo como fundo um hotel fascinante. Não há pressas em conduzir a acção de um ponto para outro, trata-se de um exercício vagaroso de avaliação e utilização da palavra para descrever cada cena, momento, pessoa. Poderá soar a um livro fastidioso, até mesmo aborrecido? É possível. Poderá ser visto como enganadoramente reconfortante, que vai criando peça a peça uma corrente de antecipação de algo brilhante e sagaz que no final desenlaça revelando um segredo? Sem dúvida.
Não obstante de encontrarmos algumas passagens com humor, o tom do livro é entristecido, sobre pessoas com uma atitude cabisbaixa forçadas por outras a um exílio dourado, ou que simplesmente não tinham par onde ir. É um romance introspectivo sobre o amor, a perda e os remorsos, que está longe de ser uma leitura para o público em geral, mas para aqueles que gostam de um livro escrito de forma plácida que nos vai desembrulhando perspectivas da vida interior de cada um.
Quase todas as frases parecem ser possíveis de citar, é um livro muito belo e extremamente pequeno. A sensação de sermos entretidos pelas palavras de por si, em que a história torna-se algo quase sucedâneo, é algo que descobrimos raramente. É uma obra fascinante que procura um leitor muito particular, que nos deixa com vontade de descobrir outras obras de Anita Brookner.
Editora: Bertrand Editora
Páginas: 200
Género: Romance
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