terça-feira, 2 de junho de 2015

A Rapariga no Comboio (Paula Hawkins)

Creio que no cerne d'A Rapariga no Comboio está a forma como as pessoas se apegam a uma ideia própria das vidas alheias e como isso se reflecte na delas próprias.
Se pensarmos nas três mulheres que dão voz a esta narrativa, cada uma delas parece ter-se colocado em problemas por encarar outras vidas como o melhor modelo para as delas.
Rachel vê um casal pela janela do comboio e faz deles imensamente feliz, de tal maneira que não evita intrometer-se com a investigação quando a mulher desaparece.
Essa mulher é Megan, que tendo uma segunda oportunidade do que fora um enorme erro de juventude e vendo a aparente felicidade do casal de quem foi ama, tenta uma via de escape para ser mãe.
Anna era a mãe da criança de quem Megan tomou conta e a actual mulher do ex-marido de Rachel que, comparando-se com esta última que entretanto engordou e é alcoólica, só vê coisas a seu favor e torna-se crente na vida familiar que tem.
As histórias destas muitos estão muito enredadas entre si e sabemos que tal só pode piorar. Até porque o ser humano é atraído para o caos pela curiosidade mórbida e acaba por tomar acções que precipitam as complicações.
Poderia quase dizer-se que se trata de um problema feminino, esta tendência para serem metediças, mas isso é porque os homens são personagens secundárias do livro, embora antagonistas principais.
A defesa do lado feminino é até algo de complexo no livro, ainda que as três mulheres tenham muitas imperfeições.
Se olharmos para elas como um tríptico temporal, veremos que são fases diferentes do drama das mulheres em torno de se tornarem mães.
Uma que não consegue engravidar e se afunda por completo, outra que sendo mãe começa a sentir depressão e se tenta convencer que o seu papel como mulher agora é aquele e uma última que tendo falhado como mãe uma vez procura
São essas situações que criam as primeiras cisões com os homens das suas vidas (não posso ser mais específica aqui para não criar um spoiler) e as encaminham como mulheres para comportamentos que pensavam estar reservadas às "outras" e piores do que elas.
Serem amantes, serem vingativas, serem mentirosas, serem fáceis e, no limite, serem alcoólicas.
As emoções do livro são, mais do que desvendar um desaparecimento, perceber até que ponto algumas destas mulheres conseguirão recuperar as suas vidas dignas.
Em torno de medos que são palpáveis e até credíveis, a autora criou personagens frágeis mas a reivindicarem toda a nossa atenção porque se a guerra tem a ver com o desaparecimento de uma delas, as batalhas são totalmente pessoais e é essas que queremos acompanhar.
Não sendo um livros com a qualidade que os 2 milhões de exemplares vendidos em 3 meses prometia, é um livro que se lê com prazer e que tem algumas ideias originais numa continuação desta imagem de emancipação das personagens femininas em ambientes hostis - o thriller em geral, nas quais são mais vítimas do que outro papel.





Autor: Paula Hawkins


Editora: Topseller


Páginas: 320


Género: Thriller

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Cine-Literatura



Começa hoje o FESTin-Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa com filmes muito interessantes para aqueles que gostam de literatura em Língua Portuguesa.


Pelas 21h30 de hoje, a sessão de abertura é feita com o filme O Vendedor de Passados, adaptação do romance de José Eduardo Agualusa.
A projecção do filme da autoria de Lula Buarque de Hollanda contará com a presença tanto do realizador como do escritor.
No elenco, dois nomes bem conhecidos do público, Lázaro Ramos e Alinne Moraes.



Fora do campo da ficção, um trabalho em torno da biografia de Paulo Coelho, Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho.
Um trabalho em torno de momentos que o moldaram como escritor e que não evita nem o melhor nem o pior da sua vida.
Júlio Andrade é quem dá corpo a Paulo Coelho nesta obra de Daniel Augusto.



Nota ainda para (Entre) Cenas de Rui Simões, um documentário acerca do processo de rodagem da adaptação que João Botelho fez da obra máxima de  Eça de Queirós em Os Maias – (Alguns) Episódios da Vida Romântica.








Se o passado determina aquilo que somos, uma boa forma de mudar um presente pouco auspicioso é modificar o que nos levou até ele. Esta é a especialidade do protagonista que, através de recursos tecnológicos e muita fantasia, reinventa a história dos seus clientes a ponto de influenciar sua vida atual. Mas a sua existência relativamente pacífica é abalada com a encomenda de uma misteriosa cliente que vai desencadear um processo de envolvimento com o trabalho muito pouco saudável para ele – embaralhando as contas do seu próprio passado.
















Cinebiografia de Paulo Coelho, o filme concentra-se em três momentos distintos da carreira do escritor: a juventude nos anos 1960; a idade adulta nos anos 1980; e a maturidade, em 2013, quando refaz o Caminho de Santiago. Usando como base depoimentos do próprio Paulo Coelho, a história perpassa os momentos mais marcantes da vida do autor, como os traumas, a relação com as drogas e a religião, sexualidade e a parceria com o músico Raul Seixas.