Publicada pela Clube de Autor, a obra de Joan Anderson relata a história autobiográfica da autora ao longo de um ano em que esta decidiu afastar-se do marido e ir viver sozinha numa casa junto ao mar, numa viagem de auto-descoberta.
A viagem da autora começa quando o seu marido lhe comunica que por motivos profissionais terão de ir morar para outro local. Com os filhos fora de casa, a autora apercebe-se de que esta viagem, para ela, não faz qualquer tipo de sentido e decide retirar-se para uma casa na praia para se reencontrar a si própria.
Ao longo desse ano a autora pondera e analisa as suas decisões de vida chegando quase sempre à conclusão de que os seus sonhos foram sendo colocados de lado em prol de uma família e que chegado aquele momento, pouco lhe resta dela própria: os filhos tornaram-se autónomos, o marido segue a sua carreira e sonhos e ela sente que abdicou dos seus ideais para que outros os realizassem. Para mostrar, tem uma casa vazia, um espírito conformado e estagnado e um casamento monótono e sem a chama de outros tempos.
Ao embarcar na viagem de auto-descoberta, a autora progressivamente reencontra-se, reconstrói-se como a areia da praia atingida pelas marés e, tal como as ondas do mar, encontra novas forças, novos alentos e novas experiências. Tal como os descobridores de há 500 anos, também a autora têm o mar como referência constante para encontrar novos rumos. Na nau à deriva da sua vida, é justamente próximo do mar que encontra novos rumos e novos territórios a explorar.
De referir que ao longo do livro, a autora raramente se vitimiza. Fala das suas escolhas de uma forma natural e sem preconceitos, abordando-os de escolhas que fez porque na altura dificilmente poderia ter feito de outra forma.
Deste livro sai toda uma mensagem de esperança, de uma mulher que teve a coragem de cortar com o passado (aparentemente) confortável, capaz de inspirar outros (as) às mudanças necessárias.
No entanto, isto remete-nos para a eterna questão do que é preciso para mudar. De facto, a autora conseguiu mudar a sua vida através de um ano de isolamento e de ter tido uma espécie de “click” que a fez querer mudar os seus padrões. Mas será que todos teremos dentro de nós essa capacidade? Mais ainda, a capacidade de tendo a consciência do que é necessário, ter a força e os recursos para fazer de facto acontecer a mudança?
Se o leitor espera um livro que miraculosamente mude a sua vida, dificilmente este será o livro certo (se é que há algum). Se por outro lado este livro puder inspirar à mudança (e apenas inspirar) então seja bem-vindo ao som das ondas e à espuma dos dias.
Autor: Joan Anderson
Editora: Noites Brancas
Páginas: 220
Género: Testemunho
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