quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Paixão de Jane Eyre (Charlotte Brontë)

Tal como o título nos induz, é uma história de paixão, do desejo humano em amar e de ser amado. É gótico, é romântico, é um clássico no verdadeiro sentido do termo. Como todos, não segue apenas uma mas duas tramas, a história do casamento e da herança, ambas com mestria. Brontë provoca-nos com uma e com a outra sucessivamente, inserindo astutamente os personagens mas com igual perícia sem precipitar qualquer desenlace. Se pudéssemos resumi-la a uma frase diríamos que se trata da história de Jane que busca alguém que ame e retribua o seu amor.
Todos os personagens de Brontë são descritos e agem de tal modo que não são meras caricaturas mas acabam por encontrar o seu próprio espaço para brilhar, todavia, acabam por ficar distantes, uma pálida imagem, do esforço e afã que a autora coloca em Jane e Edward Rochester. Rochester encaixa mais nas linhas convencionais do herói romântico. Muito mais do que Heathcliff, até porque este é o anti-herói romântico.
Rochester é um personagem complexo. Brontë parece caracterizá-lo rapidamente e lançá-lo na história. É uma força extraordinária e exige toda a força interior de Jane, para que ela consiga manter-se independente dos seus desejos e impulsos. Algo que ela o consegue fazer, até podemos dar por adquirido, mas as razões pelas quais o consegue é algo que nos deixa absorvidos pela história.
Mas Jane é toda uma outra constelação, transporta em si uma vida interior intrincada, fascinante e pungente. Até na sua infância, quando ela se agarra obstinadamente à ideia de rejeitar a tia enquanto está ainda incerta acerca das suas próprias posições morais, o seu interior é tumultuoso e complexo sem nunca nos parecer irrazoável. Normalmente as críticas detêm-se no seu exterior dócil e obediente, mas como jovem oriunda de uma classe social precária, completamente só no mundo, ela, mesmo assim, procura enfrentar esse mundo, em coerência com os seus sonhos e princípios morais. Intimidada pela sua família que a trata de um modo desapiedado, Jane pode estar habituada a seguir obedecer a ordens, mas também está muito acostumada a questioná-las. Reconhece a sua posição na ordem social de uma mulher sem ligações e sem fortuna, mas não o aceita cegamente – na realidade ela fortalece-se contra isso. Tem uma alma de artista cuja imaginação atrevida pinta os seus quadros, os seus devaneios e a sua narrativa de vida.
É uma observadora empenhada perante os que a rodeiam, observações que desnudam até os ídolos sociais mais polidos ou as figuras políticas de maior santimónia. Até mesmo quando ela se dirige àqueles que estão acima de si, ela fá-lo com eloquência, inteligência e espirituosidade. As suas conversas não são provocações astutas de um romance de costumes, mas acostam questões de moralidade, redenção, da igualdade de género e da natureza humana. Nem sempre tem total convicção nas suas opiniões, mas agarra-se firmemente a elas, mesmo quando isso implica sacrificar aquilo que ama. Em súmula, é a história de uma mulher inteligente e repleta de princípios cujo exterior convencional e a voz suave servem como um vívido contraste com um interior imaginativo, idealista, rebelde e de personalidade bem vincada. Ela está mais próxima de uma feminista na medida em uma mulher o poderia ser no seu tempo, apesar (ou em conjugação) da sua forma plácida de ser,
A história de Jane Eyre decorre durante um período de mais de uma década e nós seguimo-la desde o seu primeiro lar, enquanto órfã, na casa rica dos seus familiares que a tratam como uma estranha, pela sua vida no colégio interno para órfãs e como governante onde conhece Rochester.
É uma obra que podemos ler à luz do nosso tempo, o desejo de uma mulher viver uma vida fora do que a sociedade à partida lhe permite. Ela deseja viajar e experimentar o mundo, crescer intelectualmente e espiritualmente, deambulando pelas dificuldades de justiça social, opressão, espiritualidade/religião e de uma sociedade aberta a todos.






Autor: Charlotte Brontë


Editora: Europa-América


Páginas: 460


Género: Romance

2 comentários:

  1. Um obra que tenho que ler sem dúvida!!

    Bjs*

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  2. Acho que todos a deviam ler, sem dúvida alguma.
    Espero que a tua vez não demore.

    :)

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