quinta-feira, 23 de junho de 2011

Garman & Worse (Alexander Kielland)

Alexander Lange Kielland, foi um dos mais famosos escritores noruegueses do século XIX, (um dos chamados Quatro Grandes da Noruega). Nascido em Stavanger cresceu numa abastada família que se dedicava ao comércio. Mas, apesar de ter nascido num berço d’ouro, sempre demonstrou uma imensa empatia por aqueles menos afortunados, era conhecido pela forma assinalável como por tratava dignamente os seus funcionários quando esteve à frente de uma fábrica. Tornou-se num porta-voz dos fracos e um crítico da sociedade do tempo, enquanto escritor.
Garman & Worse, escrito em 1880, é indiscutivelmente a obra mais conhecida e mais celebrada de Kielland. Neste romance todas as linhas de força, da escrita de Kielland, coalescem num brilhantismo refinado em termos de caracterização e execução. Enquanto obras anteriores sofriam de uma postura demasiadamente intelectual, Garman & Worse trouxe um sentimento e vivacidade na sua veia narrativa. O autor conseguiu descolar um pouco assim da cansativa mordacidade satírica, de muita da literatura norueguesa, para criar um romance com uma grande profusão de mensagem, sem perder o toque delicado da corrente francesa contemporânea dele, como o uso de frases de dúcteis, pelas quais ainda é celebrado.
Assim ele retrata, mais particularmente a vida quotidiana da sua cidade natal, Stavanger, e conta-nos o percurso de declínio de uma família e de uma empresa. George Brandes, com quem Kielland se correspondia, enfatizou o papel crítico da sua literatura nas questões sociais. Garman & Worse serviu de modelo para o famoso romance de Thomas Mann, Buddenbrooks. Os retratos esboçados pelo autor da classe média são como vidros colocados nos lares e lugares de trabalho de homens e mulheres comuns, mostrando-nos quem são, mas não apenas de um ponto de vista realista (ou naturalista). Ele não asfixia uma ideologia ou os aspectos filosóficos no seu discurso e nas acções dos personagens. Ele cria uma arquitectura completa através de utilização de blocos mais pequenos e sólidos, peças que caracterizam todos e cada um de nós – os tiques vocais, os maneirismos físicos, as indicações de individualidade que o conjunto de todos os haveres e pertences, e tudo aquilo que preenche o lar transmite, bem como o discurso psicológico despretensioso que todos transportamos em nós. Não é nem sentimental, nem é apologético no retrato da burguesia, fazendo sobressair as suas falhas com a mesma acuidade que as suas forças.
Embora se afirme que a escrita de Kielland transporta sobre si o peso da revolução e da justiça social ele não é um autor expressamente, ou abertamente, político. Na realidade está longe disso – a sua obra toca em diferentes facetas da sociedade humana, como a igualdade social e de género, a iliteracia, o peso do clero sobre a sociedade do seu tempo. A sua escrita não pressupõe, portanto uma posição política mas sim expressa um desejo de ver as classes baixas, médias e altas chegarem a uma compreensão recíproca, e através desse entendimento abordar os problemas de forma conducente a um resultado válido para todas.
Em conclusão, trata-se de uma obra que escolhe e selecciona o leitor em vez do inverso, a cadência narrativa é pausada, contemplativa, forçando quem o lê, pause, inspire e procure visualizar cada descrição. Não estamos a dizer que é um longo romance descritivo mas estes momentos são tão frequentes como as movimentações dos personagens, que por vezes sentimos que a acção e todos os momentos mais tumultuosos são criados para nos conduzir a estes frescos. Carrega em si o lado indelével da vida, da obrigação em fazer escolhas, de renúncia, resignação, e como tal na marca, e esta é incorporada em cada um de nós. Não há momentos de particular heroísmo, mas, ao mesmo tempo, esta crueza emociona-nos, faz-nos sentir que é real, que também pontilha o nosso tempo e a nossa vida quotidiana.





Autor: Alexander Kielland


Editora: Eucleia Editora


Páginas: 174


Género: Romance

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