Foi essa aura de santidade que inquietou o autor, dado que pouco mais do que a imagem de uma personagem pia e milagrosa parece ter perdurado na História. Conduzidos por essa inquietude somos levados a visitar, através do punho romanesco do autor, vários momentos da vida desta que foi a sexta rainha de Portugal. Uma desconstrução quase feita a filigrana que o autor se propõe fazer, partindo de algumas linhas-força modeladoras da vida de Isabel, a saber, o facto de ser filha de Pedro III de Aragão, rei excomungado pelo Papa, neta do gibelino Manfredo da Sicília, morto em batalha contra as forças papais, bisneta do Imperador Frederico II que era apelidado pelo Papado como “a besta negra”, as lutas acesas entre o poder real e o clero português (a Rainha Santa não só esteve envolvida em vívidas disputas com o clero rico e instalado, como também fundou em Alenquer as festas do Espírito Santo, em que o povo, a nobreza e a corte se sentavam à mesma mesa, e os presos eram libertados), das suas relações próximas com Arnaldo de Villanova, médico hermetista, alquimista, teólogo e, acima de tudo, herege, que cativaram e provocaram o próprio autor. Mas tal em nada implica que foi descurado, nem olhado de forma particularmente cínica momentos como o famoso Milagre das Rosas, as relações nem sempre pacíficas com o rei, D. Dinis, as peregrinações a Santiago de Compostela, e a educação de Afonso e Constança (o futuro rei de Portugal e futura rainha de Castela respectivamente). Todos estes são elementos em que o real e o mítico, o dócil e pertinaz parece coexistir pacificamente.
Todavia, mais uma vez, não falamos de um texto ensaístico mas de um romance histórico, assim, elementos como a imaginação, a parábola, a poesia encontram espaço no contar de um tempo e um momento; são as linhas com que os factos se costuram e se unem. A história começa bem antes do nascimento da rainha (1270), uma vez que o autor recua até às genealogias predecessoras, iniciando dos seus avós, pais, irmão até chegarmos a ela. É-nos explicado de onde vem, das políticas envolvidas no xadrez europeu, as vidas em torno do Sacro-Império Romano, as lutas entre Guelfos e Gibelinos, a disputa do reino da Sicília, e aprendemos que Isabel, deve o seu nome à sua tia Isabel da Hungria.
É notória a preocupação que o autor teve em reproduzir todos os trejeitos de linguagem da época, seguindo uma corrente mais clássica de romancistas históricos e, consequentemente, afastando-se de alguma modernização linguística que escritores contemporâneos tendem a fazer. Algo que talvez possa desencorajar uma leitura mais corrente e fluida da obra, mas ela própria visa marcar essa cadência, pois o esforço e a precisão descritiva implicam uma leitura pausada, tranquila.
Para António Cândido Franco, Os Pecados da Rainha Santa Isabel é o fechar de um tríptico medieval no feminino, de figuras cronologicamente muito próximas, completado com Inês de Castro e Leonor Telles. Todavia, o autor afirma que "Em Inês de Castro e Leonor Teles abordei, sobretudo, o tema do amor e da paixão, que em Isabel de Aragão não tem tanta importância, apesar da relação com D. Dinis não ser tão fria como se pensa. Não obstante, as três estão ligadas por uma cultura que não é masculina, que não tem a ver com afirmação, domínio, imposição. É uma cultura do silêncio, quase sagrada. Além disso, são, curiosamente, identificadas pelo mesmo espaço: Coimbra. Isabel de Aragão funda aí a casa de Santa Clara, onde Inês morre, e Leonor e Fernando vivem grande parte da sua história de amor naquela cidade."
Não será uma obra fácil, nem será uma obra para todos os públicos, mas cuja persistência da leitura é amplamente recompensadora já que esta é dotada de uma riqueza e elegância linguísticas que merecem ser devidamente apreciadas.
Todavia, mais uma vez, não falamos de um texto ensaístico mas de um romance histórico, assim, elementos como a imaginação, a parábola, a poesia encontram espaço no contar de um tempo e um momento; são as linhas com que os factos se costuram e se unem. A história começa bem antes do nascimento da rainha (1270), uma vez que o autor recua até às genealogias predecessoras, iniciando dos seus avós, pais, irmão até chegarmos a ela. É-nos explicado de onde vem, das políticas envolvidas no xadrez europeu, as vidas em torno do Sacro-Império Romano, as lutas entre Guelfos e Gibelinos, a disputa do reino da Sicília, e aprendemos que Isabel, deve o seu nome à sua tia Isabel da Hungria.
É notória a preocupação que o autor teve em reproduzir todos os trejeitos de linguagem da época, seguindo uma corrente mais clássica de romancistas históricos e, consequentemente, afastando-se de alguma modernização linguística que escritores contemporâneos tendem a fazer. Algo que talvez possa desencorajar uma leitura mais corrente e fluida da obra, mas ela própria visa marcar essa cadência, pois o esforço e a precisão descritiva implicam uma leitura pausada, tranquila.
Para António Cândido Franco, Os Pecados da Rainha Santa Isabel é o fechar de um tríptico medieval no feminino, de figuras cronologicamente muito próximas, completado com Inês de Castro e Leonor Telles. Todavia, o autor afirma que "Em Inês de Castro e Leonor Teles abordei, sobretudo, o tema do amor e da paixão, que em Isabel de Aragão não tem tanta importância, apesar da relação com D. Dinis não ser tão fria como se pensa. Não obstante, as três estão ligadas por uma cultura que não é masculina, que não tem a ver com afirmação, domínio, imposição. É uma cultura do silêncio, quase sagrada. Além disso, são, curiosamente, identificadas pelo mesmo espaço: Coimbra. Isabel de Aragão funda aí a casa de Santa Clara, onde Inês morre, e Leonor e Fernando vivem grande parte da sua história de amor naquela cidade."
Não será uma obra fácil, nem será uma obra para todos os públicos, mas cuja persistência da leitura é amplamente recompensadora já que esta é dotada de uma riqueza e elegância linguísticas que merecem ser devidamente apreciadas.
Autor: António Franco
Editora: Ésquilo
Páginas: 400
Género: Romance Histórico
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