quinta-feira, 9 de junho de 2011

Jesus, O Judeu (César Vidal)

Jesus, o Judeu é uma obra do historiador, teólogo e escritor, César Vidal, que procura contextualizar e explicar a personagem e personalidade de Jesus de Nazaré enquanto alguém que não deixa de ser recipiente do seu tempo e espaço (a terra judaica de Israel, de conquistas, expulsões, regressos, então ocupada há mais de meio século pelos Romanos) cultura (uma civilização com cerca de três milénios, e religião (Jerusalém, o centro religioso desse mundo) em que viveu, e procura afastar-se da visão de alguém que é visto a partir do enfoque do mundo ocidental, salientando que Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu, sem nunca ter conhecido sequer o Ocidente, e daí termos de ser nós a transportarmo-nos até ele, e nunca o contrário.
É dada a imagem de um Jesus letrado, que tanto comunicava em aramaico como em grego. Uma tese empenhadamente defendida, dada a longuíssima história de interacção e afectação da cultura grega, a língua dos evangelhos que, segundo o autor, terá também sido a razão principal de uma religião emergente no Médio Oriente terá sido capaz de se disseminar por toda a bacia do Mediterrâneo e até confins mais setentrionais do Império Romano.
Em entrevista o autor afirma que “se há um personagem que nunca deixa de ser actual ele é Jesus de Nazaré, sobretudo porque a mensagem de Jesus contém uma enorme diferença de quaisquer outras”, e, acima de tudo, “é um personagem que continua a nos interpelar nos dias de hoje”. Dito de outro modo, para o autor a importância de Jesus prende-se de igual modo ao facto de ele tecer considerações sobre si mesmo que obriga a que todos nós ainda hoje o olhemos e o interpretemos de um modo extremamente subjectivo e individual. Tendo uma abordagem muito própria à forma como via o seu papel messiânico, ou seja essa disposição ao mesmo tempo sacrificial e redentora e, ao contrário da tese rabínica sectária e estratificada, a mensagem de Cristo pretendia ter um carácter universal.
Assim, é sob esta óptica, e, tendo como ponto de partida o evangelho de S. Marcos, que Vidal procura explanar os ensinamentos e a personalidade de Cristo. Lá é dito “Jesus é alguém que não vinha para ser servido mas sim para servir; porque é filho do Homem, e por eles vinha a dar a sua vida, oferecendo o seu corpo num processo injusto, como um cordeiro”, concretiza Vidal. “Tal agrega três afirmações que, no seu cerne, são judaicas. Assim temos “O Jesus servo”, um conceito judeu de “uma figura a quem é dedicada quatro cantos em Isaías” 800 anos antes. O Jesus “Filho do Homem” uma referência à profecia de Daniel de um ser celestial, emanado da Humanidade, que descenderá para julgar todos os seres humanos.
Jesus, o Judeu explica minuciosamente um dos mais célebres discursos estudados, o Sermão da Montanha, onde o modelo hebraico é utilizado para lançar vários ensinamentos mas tendo sempre em mente que Jesus disse “não venho para abolir a Torá, mas lhe dar o seu pleno cumprimento” e é nesta contraposição que se dá a grande fractura que farão as duas religiões divergir doravante.
Isto conduz-nos à forma como o autor se refere à dimensão ética de Jesus, quando este afirma que nas situações mais difíceis, como a perseguição pode haver visão diferente, que vem com a percepção de como Deus actua no mundo, através das pulsões emocionais, em que amor e empatia assumem significados recíprocos.
Tem sido considerada como uma obra fundamental para compreender o Judaísmo durante o período do Segundo Templo, no qual estão as raízes do Cristianismo incipiente e, por extensão, da cultura em que vivemos.
Como o próprio autor confessa em entrevista, esta obra é “a culminação de um trabalho de quinze anos de investigação histórica”, em que vê os ensinamentos de Jesus sob a historicidade pertencente, afastando-se dos mitos e milagres, e fazendo sobressair que aquela mundividência cosmopolita, saindo do modelo quase monolítico do Judaísmo para o enlaçar com várias digressões sectárias (ou nas palavras do autor, escolas de pensamento), culturais e linguísticas.
Não sendo uma obra de leitura fácil, pois requer que o leitor já transporte consigo uma certa bagagem cultural, acaba por se tornar cativante por se afastar da mensagem cristã típica.




Autor: César Vidal


Editora: Esfera dos Livros


Páginas: 300


Género: Romance

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