Esta é a história de Victoria, uma jovem de dezoito anos, proveniente de uma família de acolhimento da cidade de São Francisco. Ela passou a vida a aperfeiçoar a nobre arte de ser altiva e distante, fechando todos do lado de fora. Enquanto foi uma jovem à procura de ser acolhida aprendeu que afeiçoar-se temporariamente a alguém sempre levava, mais tarde ou mais cedo, a alguma desilusão, por ter de abandonar tudo aquilo a que se estava a habituar.
Isso mudo quando ela faz dezoito anos, o sistema abandona-a e ela encontra-se sem tecto e sem emprego, mas transporta em si um tesouro imenso, uma das pessoas que tomou conta dela, Elizabeth, ensinou-lhe a linguagem das flores.
A forma como Victoria conduz o seu amor pelas flores e a sua ligação a tudo que nasce e floresce são o seu grande dom perante o mundo. Ela é ajudada ao chegar ao mercado de flores, onde consegue arranjar um emprego, por Renata, a amiga desta e Grant, um outro jovem que também se questiona sobre o passado. Rapidamente a sua perícia, reputação e até mesmo mística começam a espalhar-se pela comunidade local.
A história vai deambulando entre o presente e quando tinha nove anos, altura em que era cuidada por Elizabeth. Cada um destes dois momentos têm uma intensidade e uma cadência tais que, à medida que o romance se desenrola, esses momentos parecem mais próximos de se interceptar e entrelaçar.
Assim, da vida e convívio com Elizabeth vemos Victoria a tornar-se naquela criança que poderia ter sido desde o início. Ela testa a tutora com o seu temperamento irascível, mas é a forma inesperada que Elizabeth reage que leva a jovem a começar a acreditar em si e que é possível que alguém possa amá-la.
Torna-se muito fácil visualizar Victoria a compilar o seu próprio dicionário sobre as flores e a sua linguagem. Ficamos particularmente embevecidos na passagem em que ela discute com a vendedora de flores sobre o significado de cada flor, daí que o dicionário, que vem como apêndice do livro é um pormenor realmente encantador, que confere um toque de originalidade.
Assim, a Linguagem Secreta das Flores é uma história poderosa, partindo da ideia do papel feminino de alguém que dá afectos, e que independentemente de quão irrelevante achemos que o amor possa ser, é na verdade importante demais para que possamos viver sem ele, mesmo para encontrarmos uma certa auto-suficiência emocional e sermos nós próprios. É um livro também sobre a família, o que a mantém unida e a separa, e claro, a linguagem das flores.
O final é exactamente aquele que se antecipava, pois apresenta um futuro repleto de crescimento simbolizado por três plantas, o narciso, o espinheiro e a aveleira.
Editora: Objectiva/Alfaguara
Páginas: 416
Género: Romance
Sem comentários:
Enviar um comentário