quarta-feira, 23 de junho de 2010

À conversa com Cassandra Clare (parte 3)

Ainda houve tempo para falar de outros assuntos com a autora. Desde logo, os seus próximos livros.

- Eu sei que o seu próximo projecto se chama Clockwork Angel e passa-se no universo dos Caçadores de Sombras mas na Época Vitoriana. Que tipo de personagens vamos ver aqui?
- Queria contar uma história que fosse paralela aos restantes livros pois precisa de ser independente para os leitores que não os tenham lido.
Somos apresentados ao universo dos Caçadores de Sombras por uma rapariga chamada Tessa, que é uma Warlock e o seu poder é de alterar a sua forma para se parecer com quem quiser.
Quando o irmão dela desaparece, ela tem de recorrer aos Caçadores de Sombras do Instituto Londrino para a ajudarem a encontrá-lo. À medida que o procuram, descobrem esta sociedade secreta chamada Pandemonium Club cujo objectivo é criar um exército de guerreiros mecânicos para destruírem os Caçadores de Sombras, pois os Caçadores de Sombras estão preparados para combater demónios e seres vivos mas não têm protecção contra criaturas que não estejam vivas.

- Que tipo de diferenças podemos esperar relativamente à história?
- Quando disse que queria que Claire fosse uma rapariga forte capaz de se aguentar por si mesma, eu quero que Tessa também o seja mas reflectindo o tempo de onde vem. Para ela há muito mais conflitos relativamente a ser uma mulher e lutar, pois ela foi ensinada a ser uma boa rapariga Vitoriana e a ser submissa, obediente e angélica e depois, descobrir que tem de lutar é muito mais perturbador para ela.
Além disso, Claire é uma Caçadora de Sombras e quando conhece os restantes Caçadores de Sombras eles aceitam-nas de imediato. Tessa é uma Warlock e quando conhece os Caçadores de Sombras, apesar de haver um romance, eles estão proibidos de estarem juntos, pois isto é antes de ser permitido aos Caçadores de Sombras estarem apaixonados ou casarem com criaturas sobrenaturais ou mesmo seres humanos, portanto há essa diferente atitude dos Caçadores de Sombras para com ela.

- E a publicação do livro já está assegurada em Portugal?
- Sim, claro.

- Porquê a época Vitoriana?
- É um dos meus períodos favoritos da História pois estava em evolução muito rápida, tecnológica. No período da Raínha Vitória fomos do tempo de Orgulho e Preconceito para o tempo de todas as comodidades modernas - comboios, electricidade, esgotos.
É um período excitante para colocar um romance.

- E charmoso.
- Sim. É óptimo para um romance pois tudo está ao rubro e em mudança. E também há algo muito romântico na época, com Londres coberta de nevoeiro e chuva, repleta de lugares negros e misteriosos.

- Já agora estou curiosa sobre que época escolheria para viver se pudesse escolher qualquer uma.
- Hum...
Há muitas coisas atractivas sobre o Período da Regência, imediatamente antes da época Vitoriana. Mas há duas coisas que são problemas para mim: nada de antibióticos (risos) e nada de dentistas modernos.
Preocupava-me com isso. Se pudesse levar comigo uma caixa de medicamentos do presente para o passado, então iria viver naquele período da Regência, ali por volta de 1811, o período de Orgulho e Preconceito. Porque adoro a roupa, acho que em muitos sentidos era um período a olhar para o futuro e podia escrever e passear a cavalo.

- Fora do Universo dos Caçadores de Sombras, tem mais algum projecto?
- Bem, estou muito ocupada com os quatro livros que tenho a sair, mas tenho um projecto delineado que é uma actualização de Orgulho e Preconceito passando-se entre adolescentes na Califórnia actual.
Gostava muito de o escrever, tudo depende de quando tiver tempo para isso.


Sabendo que há uma adaptação dos livros da autora a chegar, aproveitei para fazer algumas perguntas.

- Os seus livros têm uma acção frenética, muito ao estilo cinematográfico. Isso não é comum neste tipo de livros. Isso foi intencional?
- Intencional no sentido em que é a forma como visualizo as cenas na minha cabeça, elas tendem a ser como um filme a passar e tento colocar essa sensação em papel para que funcione como um livro para os leitores.

- Algum filme influenciou a sua escrita?
- Diria que houve séries de televisão que me influenciaram, como Buffy, Caçadora de Vampiros e Dark Shadows.
E houve filmes como A Cidade das Crianças Perdidas e Dark City - Cidade Misteriosa que também influenciaram a minha escrita pela forma como encaram o conceito de cidade.

- É uma cinéfila?
- Adoro filmes mas sou uma cinéfila amadora, não consigo discutir filmes de forma muito inteligente, sobre grandes realizadores ou estilos de cinema!

- Que tipo de filmes costuma ver e quais são os seus favoritos?
- O meu realizador favorito é Guillermo del Toro. Um dos meus filmes favoritos é O Labirinto do Fauno.
Gostei muito do que ele fez com o Hellboy, no segundo filme, aquilo que ele fez com o mercado na cidade subterrânea, achei fantástico! Acho que é a mistura do belo e do grotesco que se destaca.
E adoro os filmes do Senhor dos Anéis!

- Sei que há uma adaptação dos seus livros para cinema. Pode dar-nos algumas novidades sobre o projecto?
- Sim, eles acabaram agora o guião. Mas eu estou em Lisboa, portanto só o vou ver quando voltar para casa.

- Como se sente relativamente à adaptação?
-Bem, tenho de esperar até ler o guião. Espero que seja bom. Eu sei que um guião não é uma transcrição exacta do livro, é a interpretação de alguém, mas espero que seja uma interpretação inteligente e apaixonada.
Estou esperançosa pois os produtores que compraram os direitos do meu livro são os mesmo de O Senhor dos Anéis e, portanto, eu sei que eles compreendem a Fantasia.

- E já tem confirmação sobre o realizador?
- Primeiro vem o argumento e depois o realizador. É preciso ter um argumento para mostrar para saber se o querem dirigir.
Mas perguntaram-me quais os realizadores que mais gostava e eu disse Guillermo del Toro e Peter Jackson, porque, claro, o Peter Jackson não anda ocupado com mais nada... (risos)

- Quais os actores que gostava de ver a interpretar as suas personagens?
- É muito engraçado, pois eu estou sempre a responder Johnny Depp e aqui neste hotel (Hotel Flórida, em Lisboa) todos os quartos têm um tema cinematográfico e o tema do meu quarto é o Johnny Depp.
(A editora, Berta Lopes, disse nesta altura que se tratava de um sinal, o que levou a muitos risos e à autora a dizer que era um pouco sinistro.)

- E quer que ele interprete as personagens todas? (risos)
- Bem, ele pode fazer de Claire, se quiser. Seria um espectáculo de um homem só! (risos)
Gostava de ver o Johnny Depp a fazer de Luke, o Robert Downey Jr. a fazer de Valentine e todos os meus fãs querem um actor britânico chamado Alex Pettyfer para interpretar Jace.
Veremos. Eu apoio-os.

- Está a trabalhar como consultora no filme?
- De acordo com o meu contrato eu tenho "Status de Consultora" mas isso, na verdade, significa aquilo que eles quiserem que signifique.


Aproximava-se o final, mas com a conversa tão solta e agradável, ainda houve tempo para algumas curiosidades.

- Há uma mão-cheia de autores portugueses traduzidos para inglês. Já leu alguma coisa?
- Não, penso que não. Não vemos muitas traduções por lá, e de língua portuguesa são mais os autores brasileiros.
Mas a quota de traduções é mesmo muito baixa e há livro que leio em francês que sei que nunca vão estar traduzidos em inglês. Por isso para ler algum autor português teria de aprender português.

- O que gosta de fazer no seu tempo livre?
- Viajar!

- E tem viajado muito. Dos países que já visitou quais gostou mais e quais ainda quer visitar?
- Bem, um dos meus países favoritos é a Inglaterra, pois se escrevi uma série de livros que se passavam lá tenho de gostar do país.
Adorei visitar Espanha e França. Passei seis semanas o ano passado a escrever o quarto livro da série e foi uma óptima experiência, as pessoas são muito simpáticas, a comida é muito boa e tudo é barato. Podia lá ficar para sempre.
E um sítio onde ainda quero ir, Austrália.

- Precisa de muita inspiração e imaginação para os seus livros. Como usa isso no quotidiano?
- Bem, essa é uma pergunta divertida!
Eu tento não guardar as minhas inspiração e imaginação para os livros e tento aplicá-las para outras coisas.
As pessoas perguntam sempre o que faço com o dinheiro dos livros e eu comprei uma casa e decidi construir o interior para reflectir a minha imaginação, por isso eu e o meu noivo estamos a construir uma grande sala que é uma biblioteca cobertas de livros e com as escadas que percorrem a sala toda.
Por isso diria que estou a aplicar a minha imaginação num ambiente onde possa estar o mais confortável possível.

- Que pergunta que nunca lhe foi feita gostaria que lhe fosse feita?
- (risos) Sinto que já me fizeram todas as questões possíveis! (risos)
Vamos dizer que é "Qual a coisa mais surpreendente no meu estilo de escrita?" e vou-te dizer que é o facto de eu só conseguir escrever com dois dedos (e levantou os indicadores).
Escrevo todos os meus livros assim. (Faz o gesto de teclar com os dois dedos.) É o meu segredo.

- E que mensagem quer deixar para os seus leitores portugueses?
- Adoro ter os meus livros traduzidos para português e espero que gostem tanto dos próximos como eu!

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