Rainha Dona Amélia retratada por Vitor Corcos
Este não é primeiro que leio sobre a rainha D. Amélia, que foi a ultima rainha de Portugal, nem o primeiro que li da autora.
A autora é já conhecida no meio literário graças aos seus dois outros livros sobre as rainhas Filipe de Lencastre e Catarina de Bragança. É obvia a preferência da autora pelo género do romance histórico e em particular pela monarquia do ponto de vista da rainha.
Desta forma, não se deve já ao ler este livro esperar que a história da D. Amélia seja descrita de uma forma neutra.
É verdade que se nota que escritora para desenvolver este livro recorreu a uma profunda pesquisa histórica, chegando mesmo a mostrar no seu livro diversos documentos fotográficos relevantes sobre a rainha. Mas isto não significa, como já referi, uma perspectiva neutra ou fiel sobre os últimos dias da monarquia em Portugal. Antes pelo contrário, a rainha é claramente retratado como vitima do rei, do seu ministro e pelos grandes vilões que na sua perspectiva são os republicanos.
Mais uma vez o que menos me agradou neste autora foi a vitimização de rainha que é quase apresentada como uma mártir do marido e do país. Penso que a autora devia ter tentado contar a história da rainha forma mais neutra, ainda por cima não sendo o romance narrado na primeira pessoa.
No fim do livro, aparece-nos Salazar no auxilio à rainha dando-nos uma perspectiva bastante favorável do antigo ditador. Já me agradou mais essa perspectiva menos estereotipada (embora não por ter algum tipo de simpatia por este tipo de regime) mas acho que ajuda recordar o leitor que uma personagem hoje vista por muitos como vilão também fez algumas coisas positivas, tendo como todas as pessoas qualidades e defeitos.
Achei francamente limitada a visão que autora nos dá do povo português como uma turba ignorante, ambivalente e infiel. A verdade é que o manutenção da Monarquia ao longo de séculos e o início da República não dependeu em quase nada da vontade da maior parte de povo, mas das pessoas mais letradas da altura.
E pensando bem, faria assim tanta diferença ao povo, na sua maior parte pobre, se quem governava era um rei ou um presidente, quando acredito que muitos até desconheciam o nome de quem os governava? Mas isto não faz deles ignorantes, seres não pensantes se pensarmos nos constrangimentos da época.
O estilo de escrita da autora é claramente influenciado pelo estilo romântico lembrando muitas vezes o estilo de Camilo, principalmente nesta obra, carregada de emoções exageradas e dramatismo. Apesar do livro ser bastante grande é agradável e lê-se bem mas, por vezes, este tipo de escrita torna-se um pouco enjoativa devido ao exagero tão característico do romantismo.
Ainda assim vale a pena ler o livro que nos parece fazer chegar a sua história como uma série de frescos da época tão fortes são as imagens que nos evoca que ora espanta, aborrece ou emociona.
Autor: Isabel Stilwell
Editora: Esfera dos Livros
Páginas: 672
Género: Romance Histórico
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