quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

À Cabeceira do Rei - Vencedor do passatempo



Mesmo aqueles que não ganharam hoje, não deixem de ler a crítica a este livro, pois creio que ficarão tentados a ir comprá-lo ou a procurá-lo na biblioteca mais próxima.

Quanto a quem vai poder ler o livro muito em breve e sem custos nenhuns é...



Gabriela Caetano

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

À Cabeceira do Rei (Paulo Drumond Braga)

Este é um livro muito chamativo para os amantes da nossa História. Creio que poderá ser ainda mais chamativo para os que não se sentem atraídos pelo tema.
Este tratamento do foro privado dos nossos soberanos pode muito bem ser a porta de entrada mais apelativa para se olhar para os Reis como pessoas a par de nós próprios.
Não se trata de chamar a atenção pela sua intimidade amorosa, que pode servir para romancear o Passado mas não nos esclarece devidamente.
Trata-se do historiador Paulo Drumond Braga nos falar da fragilidade que os Reis partilham connosco, assim os mostrando humanos.
As suas doenças e, em alguns casos, as suas mortes mostram que a fragilidade humana não tem em conta o posto que cada qual ocupa e que os médicos, por melhores intenções que tenham, não podem ir mais além do que iriam com um simples camponês.
Ou, se o tentam ir, estão já no campo da invenção que lhes permita parecerem sábios quando o paciente frágil à sua frente tem, sempre, o poder sobre eles.
Algumas das doenças de então ficam esclarecidas aos nossos olhos modernos, mas isso não acontece com todas as sequências que levam à morte de reis.
Há casos nos quais as suspeitas permanecem e também isso é excitante, uma espécie de policial arqueológico em que a intuição e a extrapolação são as melhores armas... mesmo que apenas da nossa imaginação.
Ao mesmo tempo temos direito a uma outra lição, de Medicina. A evolução do conhecimento fica bem patente na explicação dos métodos usados ao longo dos séculos.
Pode ser difícil, por vezes, compreender à luz da nossa Era os pontos mais avançado da Ciência de então sem os classificarmos como "crença" mas é essencial tentar perceber as limitações - científicas e religiosas, por exemplo - que faziam a Medicina progredir tão lentamente.
Para o leitor é também importante saber que o autor conseguiu escrever de forma chamativa sem deixar de lado a precisão científica do seu mester.
A introdução de cada capítulo é importante para relembrar o contexto do que vamos ler, o recurso a citações das obras de referência bibliográfica dão a cada relato uma maior proximidade ao tempo em que se passaram e, sobretudo, uma intromissão no círculo mais restrito dos monarca.
Este género de trabalhos permitem ao comum leitor, com ligeireza, passar a História por "tu", algo que o historiador que o escreveu já faz mas com o peso da sua vocação.





Autor: Paulo Drumond Braga


Editora: Esfera dos Livros


Páginas: 328


Género: História / Divulgação

sábado, 22 de novembro de 2014

À Cabeceira do Rei - Passatempo



D. Afonso Henriques, o Conquistador, viveu até ao limite das suas forças, falecendo com cerca de 76 anos. D. Fernando I, D. João II e D. João VI poderão ter sido envenenados. D. Afonso VI foi vítima na infância de uma «febre maligna» que o deixou marcado para a vida: coxeava e só com grande dificuldade movia a mão e o pé direitos e, provavelmente, não via e não ouvia desse lado. Morreu aos 40 anos devido a um acidente vascular cerebral, depois de uma vida marcada pelo sofrimento. D. Maria I ficou para a história como a Rainha Louca. Aos 57 anos revelaram-se os primeiros sinais de um transtorno mental que se foi agravando e a rainha acabou por falecer num avançado estado de demência. D. Maria II sucumbiu depois de o seu corpo exausto ter dado à luz 11 filhos no espaço de 16 anos. D. Manuel II, o último rei de Portugal, morreu asfixiado por um edema da glote, «no meio da mais patética aflição», pois enquanto o rei sufocava ninguém sabia como socorrê-lo. Percorrendo as vidas de todos os monarcas portugueses, o historiador Paulo Drumond Braga apresenta-nos uma perspetiva inovadora da nossa história. Porque a doença e a morte podem revelar muito sobre a forma como se viveu, esta obra original, baseada numa investigação inédita, dá-nos a conhecer as doenças de que sofreram os reis de Portugal e as possíveis causas de morte, assim como a evolução da medicina ao longo dos tempos.




Tenho o prazer de vos poder oferecer um exemplar deste livro que muito gostei de ler e do qual publicarei a crítica em breve.

Basta que respondam correctamente a uma pergunta cuja resposta podem descobrir facilmente seguindo o link acima.

Podem conseguir uma hipótese adicional de ganharem o prémio se forem seguidores do Facebook do Páginas com Memória e partilharem publicamente o post do passatempo.

O passatempo fica activo até ao último dia deste mês de Novembro, inclusivé. Boa sorte a todos!




Regras do passatempo

1) Preencher todos os dados solicitados correctamente.
2) Apenas participantes com moradas de Portugal.
3) Apenas uma participação por cada nome, email e morada.
4) O não cumprimento da regra 3) poderá levar a exclusão em passatempos futuros.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

As Gémeas (Saskia Sarginson)

Duas irmãs gémeas encontram-se agora em pontos completamente opostos da sua existência, como pessoas no mundo actual, mas mesmo como mulheres.
Uma delas escreve com sucesso para uma revista de moda e é um símbolo de glamour. A outra continua a lutar com a sua anorexia, problema que muito afecta 
Como é que duas raparigas cheias de vida e beleza, muito unidas, cresceram para serem estas duas mulheres em busca de uma identidade exterior
Obviamente que há um segredo no seu passado que as afectou de maneiras de diferentes e que conseguiu afastá-las.
Esse passado é absolutamente fascinante, um relato acerca de duas gémeas vivendo na orla de uma imensa floresta, cenário que sugere um misto de conto de fadas e conto de terror.
A identidade das irmãs enquanto crianças também é excepcionalmente criada, sendo personagens com traços bem distintos entre si mas cuja forte ligação emocional é sempre ricamente explorada.
Criar personalidades de crianças é um trabalho difícil mas Saskia Sarginson conseguiu dar-lhes características ricas e desafiantes sem as transformar em adultas em miniatura.
Acredita-se que são crianças que, em parte, estão para lá da sua idade, o que tem toda a razão de ser perante os desafios que enfrentam e a independência que vão criando para si próprias por serem criadas apenas pela mãe, bastante liberal e para lá das normas sociais!
Creio que é a experiência da autora que ajuda a que este seu trabalho acerca da infância resulte tão bem. Afinal ela é mãe de gémeas e a sua própria infância foi vivida numa zona rural de Suffolk.
Este conhecimento na primeira pessoa leva-a a ter um imenso sucesso na captura da relação emocional do leitor com estas personagens enquantos jovens a braços com mudanças significativas no seu lar quando a mãe vai recasar, ao mesmo tempo que descobrem uma certa magia local ao conhecerem dois irmãs gémeos de quem se vão tornando amigas.
O mesmo não acontece com as versãos adultas das irmãs, demasiado limitadas a traços de carácter quase meramente funcionais a um nível emocional.
A luta entre a vida e a morte de Viola tenta obrigar o leitor a sentir uma triste ansiedade. O retorno de Isolte ao local da sua infância para lhe desvendar os segredos tenta obrigar o leitor a sentir solidariedade pela sua abnegação.
Por isso as personagens são mais fortes em 1972 do que depois em 1987, muito embora estejamos a conhecê-las nessa altura por via das memórias da própria Viola.
Merece mesmo reparo o facto da narrativa variar muitas vezes o ponto de vista do qual parte, o que implica variações temporais, variações do tempo verbal e variações na pessoa gramatical.
A variação em si, apesar de um pouco excessiva, não seria um problema se fosse sempre óbvia, mas muitas vezes a mudança do período de tempo é brusca e pouco perceptível visto que acontece apenas no interior da memória de Viola, pelo que a voz narrativa é exactamente a mesma.
Este é o ponto negativo de estarmos perante um primeiro romance, a falta de calo da autora para dominar a estruturação da história usando as múltiplas vozes que decidiu usar. O risco disto é que pode afastar muitos leitores logo ao fim de alguns capítulos.




Autor: Saskia Sarginson


Editora: Chá das Cinco


Páginas: 288


Género: Romance

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Um Caso Perdido (Colleen Hoover)

Um Caso Perdido parece-se, durante mais de metade da sua duração, com mais um romance principalmente dirigido a um público adolescente.
Talvez até seja, na sua totalidade, um livro apontado a esse público adolescente. Mas o seu conteúdo exige um acompanhamento emocional para esse público, pois é capaz de chocar até os leitores adultos.
Esta história de Amor entre Sky e Holder acontece num contexto interessante em que são ambos desajustados que estiveram afastados do contacto social normal e que se atraiem.
As reputações de ambos são do pior que podem ser, embora não sem o seu quê de exagero, e as dúvidas de um perante o outro colocam-se, ainda que o desejo imenso (o Amor define-se mais tarde no livro) impeça que reflictam sobre a sua situação juntos.
A atracção de Holder por Sky tem algo de obsessivo e pouco saudável, tal como o distanciamento emocional dela tem muito de trauma silenciado, como se confirma quando o Passado conjunto de ambos se revela.
Não é difícil adiinhar o quanto estes dois vão viver intensamente em conjunto, tal como não é difícil adivinhar qual é o grande segredo que paira sobre a vida deles.
Mesmo assim o leitor não consegue deixar de ser guiado pelo uso que a história vai fazendo das emoções mais extremadas e que contagiam com facilidade e intensidade.
Este é um livro que se impõe, precisamente, pelas emoções que transmite, em doses iguais e gigantes de encanto e horror perante o que os seres humanos são capazes de fazer.
Só que essa manipulação tem um limite de aceitação e acaba por levantar dúvidas importantes acerca daquilo que a autora fez com os temas que escolheu.
O seu uso do abuso sexual de menores como reviravolta, primeiro, e tópico de união reforçada entre o casal de adolescentes, depois, tem muitos momentos duvidosos. E isso talvez seja dizer o mínimo.
Falta ao livro um aspecto didáctico acerca de como procurar ajudar alguém que sofreu um trauma tão grande.
Não era necessário que a autora abdicasse da ficção ou do romance entre as personagens para o fazer, bastaria que não escrevesse como se o Amor fosse o suficiente para resolver qualquer problema sem auxílio de formas de terapia ou acompanhamento psicológico.
Até mais do que o amor, a autora faz do próprio sexo uma ferramenta sem grande apego emocional que permite usá-lo como paliativo.
A meio do desespero que Sky sente ao recuperar as suas memórias traumáticas, ela decide que tem de fazer sexo com Holder naquilo que vai ser a sua primeira vez. Depois do pai se ter matado à sua frente e ela ter lavado pedaços do cérebro dele do cabelo ela decide que tem de fazer sexo com Holder.
O sexo como substituto da raiva no primeiro caso. O sexo como substituto do horror, no segundo caso.
Se a ideia era que a personagem feminina tomasse as rédeas da sua sexualidade depois de ter sido privada dela, então não funciona.
Emocionalmente a personagem nunca se mostra preparada para compreender o acto sexual, muito menos para o consumar.
A solução narrativa de que o sexo resolve tudo, versão moderna de "o amor pode tudo", é uma grave limitação da autora.
Como escritora e, talvez ainda mais importante do que isso, como antiga assistente social, não me parece que Colleen Hoover queira validar que a recuperação traumática acontece quase num passe de magia e quase sem esforço. Muito menos tornando o sexo nesse passo de magia.
Simplificação grosseira apenas para que o romance entre os dois protagonistas siga adiante e, mais grave do que isso, um total irrealismo que não faz sentido quando a segunda metade do livro explora em realismo gráfico explícito o sexo, seja "bom" ou "mau".
Não quero com isto dizer que Colleen Hoover não seja uma escritora com muitos talentos, talvez o mais interessante o de conseguir dar às palavras românticas força poética com credibilidade, mas aqui falhou de forma tremenda ao ir demasiado longe no tratamento dos abusos infantis sem deixar de estar a escrever o tal romance onde o amor é bem sucedido contra tudo e contra todos.




Autor: Colleen Hoover


Editora: Topseller


Páginas: 352


Género: Romance

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Viagem ao Fim do Coração (Ana Casaca)

Este é um livro que orbita em torno da doença que é o cancro e, no entanto, é difícil dizer que é um livro sobre esse tema.
A sua frontalidade - que por vezes parece conter um toque de brutalidade apenas porque os tópicos assim o ditam - trata tanto dos temas que nos despertam as melhores emoções como dos que nos despertam as piores.
Cancro, violência, dedicação, sacrifício, superprotecção e Amor (assim mesmo, com letra maiúscula e em todas as suas formas).
Costuma dizer-se que há livros que são uma montanha-russa de emoções e este é um deles, certamente, um resumo de tudo o que a vida contém em capítulos muito intensos.
Capítulos que vão passando de voz em voz entre Luísa, Pedro e Tiago.
Luísa é a grande sofredora deste livro. Pedro o seu irmão e Tiago o seu companheiro e ambos lhe vão demonstrar que ela é também uma afortunada, em certa medida.
São importantes as mudanças de perspectiva para compreender como se reage a tão intensa doença sofrendo dela ou acompanhando quem dela sofre.
A compreensão do difícil que é conciliar todas aquelas visões do momento que se está a viver é importante para perceber como as pessoas podem sucumbir à pressão da realidade, mas ainda mais importante para perceber o quanto as personagens do livro, sobretudo Pedro, são capazes de descobrir e dar de si em favor dos outros.
As três personagens tornam-se muito vívidas e interligadas na nossa mente ao longo dos capítulos, mas há também uma sugestão de que Tiago está sempre ligeiramente de fora em relação à intimidade maior dos dois irmãos.
Isso é sugerido em grande parte pelo seu ser o único testemunho que não é feito na primeira pessoa e faz sentido na história porque o seu percurso de infância é precisamente o oposto da de Luísa e Pedro, embora os resultados práticos se aproximem: os três acabaram por ter de arrancar as suas próprias personalidades das prisões em que os seus progenitores os colocaram.
Tiago conquista o seu lugar no espaço das relações dos dois irmãos por tudo o que faz, para além de pelo próprio Amor que sente e faz sentir.
Mas está de certa forma sempre a olhar de fora para dentro, no que torna ainda mais complexo o retrato que Ana Casaca criou num trio de relações que costuma ser muito propício para a ficção.
Como esse triângulo surge depois da autora ter relatado as infâncias dos três, a verdade é que as relações são mais credíveis à conta de composições que vêm dos momentos mais marcantes da vida, as grandes impressões que vêm desde a infância e das escolhas precoces que as crianças têm de tomar.
Luísa é, em todos os aspectos mas nesse ainda mais intensamente, marcante pelo que fez pelo irmão mais do que por ela própria.
Podem ser os pequenos momentos, como o encontro na praia que lhe revelou o amor, que deixam uma lembrança agradável sobre a vida, mas são as decisões temerárias que definem rumos.
E o rumo dela traça depois o rumo deles. A decisão que ela outrora tomou leva-os a todos à maneira como enfrentam o cancro que é apenas uma mais adversidade e nunca altera o que eles são ou querem ser.
Estas personagens crescem e superam-se perante nós e conquistam-nos. Visto que a história é baseada em relatos reais, espero que as verdadeiras pessoas por detrás da ficção sejam igualmente marcantes para quem as conhece e, sobretudo, que recebam muito mais da Vida!





Autor: Ana Casaca


Editora: Guerra & Paz


Páginas: 328


Género: Romance

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O Segredo dos Tudor (C. W. Gortner)

Em O Segredo dos Tudor somos levados a encarar a famosa corte Inglesa pela perspectiva de Brendan Prescott, um personagem que fala de si mesmo como sendo tão banal que seria tão pouco notado como a chuva.
E, no entanto, é um personagem capaz de nos fascinar e para quem essa falta de atributos distintivos será muito útil.
Afinal a sua história será uma de verdadeira espionagem, numa altura em que as maquinações em torno de tal actividade pareciam começar a ganhar forma com novos conceitos e estratagemas.
O melhor é que a sua deambulação pela Corte, com fidelidades sempre em mudança consoante a força de quem tivesse o poder, servem os intentos de quem à época procurava definir (ainda) a sucessão de Henrique VIII, mas também servem os intentos do próprio Brendan.
Ele luta ao mesmo tempo pela descoberta do seu próprio mistério, um que vem desde a sua infância e que já lhe custou muitas dores.
Isto permite a Gortner ligar a ficção e a História de forma quase indestrinçável, tendo a liberdade de usar o ficcional Brendan como ponto de união entre diversas personagens reais.
Mais ainda faz com que o livro seja muito mais um livro de espionagem cheio de reviravoltas inesperadas e mistérios continuadamente em suspenso. Isto ao invés de ser mais um relato de um período histórico que conhecemos muito bem.
Todos os interessados sabem já como o poder foi mudando de mãos entre os filhos de Henrique VIII, pelo que o autor ao evitar recontar tudo isso mas usando-o como um vivo cenário de onde retira saborosos detalhes que afectam as suas criações consegue fazer-nos acreditar que esta história poderia ter acontecido discretamente pelo meio de outras intrigas mais ferozes e lembradas.
Até porque a perspectiva de Brendan Prescott sobre a corte é "fresca", de um recém chegado alheado de quase tudo. Mas vai evoluíndo de tal forma que ele quase se confunde com quem nela se sentava há anos.
A personagem ganha volume e torna-se muito credível e vai conquistando e reconquistando o leitor também porque acaba por proporcionar novas perspectivas sobre algumas figuras já muito trabalhadas por muitos outros romances históricos - dos quais este se distingue de forma muito clara, diga-se!
O autor trabalha todos estes elementos com uma escrita que vive da formalidade prática. Ao mesmo tempo que sugere uma aproximação ao estilo linguístico do século XVI mantém uma vivacidade moderna. Nessa combinação consegue captar a atenção do leitor e, mais do que isso, o seu devoto prazer.
Uma linguagem perfeita para estar ao serviço de um livro onde o suspense e a acção intensa se equilibram para proporcionar uma "montanha-russa emocional" que é tudo o que se quer de um livro do género.
A combinação é excelente e merece a leitura de todos, mais ou menos afoitos para o Romance Histórico. Cá esperamos os próximos volumes!




Autor: C. W. Gortner


Editora: Topseller


Páginas: 352


Género: Romance Histórico / Mistério

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Evento - Jantar com João Tordo

Todos aqueles interessados na obra do escritor João Tordo, vencedor do Prémio José Saramago em 2008 e que já neste ano lançou o seu mais recente livro Biografia Involuntária dos Amantes, poderão amanhã ficar a conhecê-lo num jantar de convívio organizado pelo site Table&Friends.




O evento decorre em Lisboa e quem aderir ao jantar beneficiará da intimidade do momento para colocar ao autor todas as questões sobre a sua obra e o seu processo criativo.

Deixo a informação mais detalhada sobre o evento, retirada directamente do site Table&Friends, onde podem ainda fazer a vossa reserva.

João Tordo é o convidado da Table&Friends para o seu próximo jantar-tertúlia, agendado para 24 de setembro (quarta-feira), no restaurante Come Prima. Com livros publicados em vários países, incluindo França, Alemanha Itália, Brasil, Croácia e Sérvia, este escritor formado em filosofia, venceu o prémio Jovens Criadores em 2001 e o prémio literário José Saramago sete anos depois, pelo romance As Três Vidas. Neste jantar terá oportunidade de conhecer em pormenor a vida, obra e carreira literária deste homem das letras, bem como aproveitar a ocasião para conversar com os demais participantes.

Para este jantar, o Come Prima preparou um welcome drink: uma flute de Prosecco (espumante italiano). A refeição começa com pão da casa, azeite e funghi ripieni (cogumelos recheados com legumes, fiambre e queijo) como entradas. Como primeiro prato, pode escolher entre um risotto com cogumelos porcini ou ravioli com ricotta, espinafres e natas. Como segundo prato, serão servidos medalhões de vitela branca cozidos a baixa temperatura e panadas, acompanhados por esparguete com tomate e manjericão. O jantar termina com um doce da casa ou tiramisù. O preço deste evento é de 25 euros por pessoa.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Em Segredo (Catherine McKenzie)

Este é um livro que bipolarizou a minha opinião, levando-a em igual medida a extremos de prazer e desconforto.
Trata-se de um livro muito bem escrito, capaz de transmitir com enorme força a angústia e a tristeza que assolam as pessoas quando estas guardam segredos para com quem elas partilham a vida.
A autora consegue mesmo criar situações de vida credíveis e complexas por estarem cheias de razões que justificam o abatimento e a indiferença em que vivem as personagens.
Isso mesmo impede que se sinta que as personagens são apenas "boas" ou "más" consoante o lado em que estão da traição, que é afinal o tema central do livro.
Todas as personagens têm uma composição que está muito para lá do esterótipo, sobretudo as duas mulheres que não são apenas "a esposa" e "a amante".
Elas são, primeiro que tudo, mulheres com carreiras e família, que acabaram por amar o mesmo homem.
A partir daí a autora consegue facilmente manter o leitor em suspenso e desejoso de saber o que acontece com as duas mulheres que sobram do trio de personagens.
Mas como trio que é, o livro acaba por ser narrado de três pontos de vistas distintos, o de Jeff, o de Claire e o de Tish.
O problema é que Jeff está morto desde o início do livro e a sua presença como narrador perfeitamente equiparado aos restantes retira muita da verosimilhança que o livro vem tendo.
Enquanto se vai lendo o livro como um retrato muito incisivo sobre o casamento e, ao mesmo tempo, sobre o que está em falta na vida das pessoas, está-se também a ler um livro que não explica porque está um homem morto a contar a sua história.
Era importante ter Jeff a falar da relação com as duas mulheres como complemento ao que estas sabem mas, também, como voz masculina em oposição às de Claire e Tish.
Só que a utilidade disso não convence o leitor de que, então, a melhor opção era matá-lo ao fim de poucas páginas.
Outras tragédias, não fatais, poderiam ter resultado no mesmo grau de tristeza das duas mulheres, talvez até com um confronto mais directo entre ambas.
De certa maneira essa opção pelo uso de Jeff acaba por também levar a que a história não pareça tão sólida quanto se esperava.
Por vezes os motivos para a história seguir adiante são ténues e até um pouco forçados, sendo o melhor do livro mesmo os momentos dedicados às revelações das personagens, num desenvolvimento de si mesmas que nos move adiante com elas.
Quando o leitor se consegue render ao livro, este revela o turbilhão de sentimentos que contem, mas para que este se consiga render é necessário lutar com alguma força contra a dúvida que o narrador Jeff suscita.
A opinião dividida acerca do livro vem desta impossibilidade de, ao ler o livro, separar a emoção que as suas palavras transmitem da emoção que a sua estrutura causa.





Autor: Catherine McKenzie


Editora: TopSeller


Páginas: 304


Género: Romance

domingo, 14 de setembro de 2014

Na Pele de Meryl Streep (Mia March)

As irmãs Isabel e June e a prima de ambas, Kat, juntam-se na pousada da mãe de Kat, Lolly e encontram um inesperado tempo de união na projecção de filmes de Meryl Streep.
São mulheres a braços com problemas que lhes parecem impossíveis de resolver e que a levam a encontrar lições de vida em filmes como Kramer contra Kramer ou As Pontes de Madison County.
Todos os que já viram filmes - bons filmes, diria - já sentiram que alguma cena e algum diálogo em particular falava directamente à sua própria vida.
Estas três mulheres, fruto das dificuldades imensas que têm na sua vida privada agarram-se por completo às várias personagens de Meryl Streep para tentarem reconquistar a sua força "feminina".
Na verdade é uma ideia que consegue ser mais plausível do que possa parecer, pois à falta de um tipo de apoio profissional ou especializado, estas mulheres socorrem-se da figura mais forte que está disponível nesse momento.
Não se trata apenas de recorrer a Meryl Streep, trata-se ainda de se reaproximarem enquanto família apesar de em novas não terem sido tão íntimas quanto seria lógico que acontecesse ao serem criadas juntas e tendo perdido os pais.
Se à volta destas mulheres todos parecem incapazes de compreender os seus dramas, a quem podem elas recorrer senão à sua própria família? Mesmo se a relação com esta nunca lhes pareceu a melhor!
Assim vai decorrendo a história, com estas personagens a criarem laços ao mesmo tempo que se descobrem a si mesmas, o que as ajuda a superar os preconceitos que tinham umas com as outras.
Os filmes de Meryl Streep que elas vão vendo não reflectem apenas os dramas das personagens, dão respostas possíveis 
Uma das grandes conquistas de Mia March foi ter conseguido evitar que parecesse que cada uma das mulheres do livro era uma imitação das personagens dos filmes escolhidos.
Meryl Streep através dos seus filmes é quase uma quinta personagem do grupo, com a autora a explorar os filmes de forma muito rica e muito intensa.
Sobretudo porque guarda um mistério acerca de Lolly e África Minha, filme que se recusa a ver de novo, que vai levar a que a reconquista destas mulheres da sua própria vida não seja tão simples como parece ir acontecer ainda a meio do livro.
Pois se o final tem muito de "certinho", certamente feliz creio eu, também é um final forte e credível, o final indicado para o que este livro nos mostrou ao longo das suas páginas.
Acima de tudo, é um final que se gosta de ver acontecer a um conjunto de personagens que Mia March tornou quase reais, fruto de uma narração que vai mudando de voz entre Isabel, June e Kat e que permite que certos momentos se reflictam a partir de vários pontos de vista e, sobretudo, de várias consciências diferentes que levantam mais hipóteses sobre uma personagem do que se fosse ela própria, somente, a reagir.






Autor: Mia March


Editora: Bertrand Editora


Páginas: 344


Género: Romance

sábado, 13 de setembro de 2014

Cine-Literatura

Uma semana em cheio para os leitores que queiram ver cinema!



O mais esperado e apetecível dos filmes desta semana é, certamente, Os Maias - Cenas da Vida Romântica.
Quase nem preciso de dizer mais nada, pois este é uma obra maior da literatura portuguesa e de certeza que todos os leitores já se apaixonaram por ela e a reconhecem com a clássica capa abaixo.


Os não-leitores também a conhecem só que em vez de amor sentem o oposto por um livro tão grande ensinado na escola...
Pode ser que agora João Botelho, que vale a pena recordar também já levou Fernando Pessoa (Filme do Desassossego) e Agustina Bessa-Luís (A Corte do Norte) à tela, consiga levar alguns desses que se limitaram a ler o resumo a sentir-se tentados pelo livro

E quem queira uma capa mais moderna e estilizada pode sempre escolher a edição do Clube do Autor que é o livro da vida de José Eduardo Agualusa.






Quando a O Físico, é uma obra que já gostaria de ter lido de tantos elogios que lhe ouvi e que acho estranho que tenha sido lançada apenas na colecção Biblioteca Sábado.
Entretanto tive oportunidade de ver o filme e é muito interessante, mas não está livre de alguns defeitos, mesmo ao nível da história um pouco convencional demais.
Acredito que o livro seja muito mais substancial nos detalhes e na construção da história, portanto não corro o risco de deixar de o ler por ter visto o filme.







E, finalmente, The Giver - O Doador de Memórias, que na edição da Everest é The Giver - O Dador de Memórias.
Este filme também já o vi e tem uma excelente primeira metade, mas a caminho do acto final as coisas tornam-se apressadas e exageradas.
Mesmo assim vale a pena irem ver e tenho a certeza que a vossa curiosidade para a série de quatro livros que acaba de ser completada pela editora com o volume IV, The Giver - O Filho.




quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Arte dos Livros (4)

Hoje não vos trago exactamente uma obra de arte a partir de um livro, mas uma grande ideia tem sempre algo de Arte.

Esta é uma campanha publicitária para uma cadeia de livros Israelita - o nome é Steimatzky - e está brilhante!









Também fizeram uns clips para a televisão, e apesar de não serem em inglês são facilmente perceptíveis.

A única dúvida que nos fica era se tal campanha seria possível por cá. Falta saber se há cadeias de livrarias com coragem para isso ou se há pessoas que estejam a ver televisão e que se interessem por lhes mostrarem este tipo de abordagem!




domingo, 7 de setembro de 2014

Envolvidos (Emma Chase)

Entre os romances eróticos que já tive oportunidade de ler ou de me recusar a fazê-lo, parece-me que Envolvidos pode estar entre os melhores.
A principal causa para isso é a forma como a autora entra no cérebro masculino de Drew, um homem cheio de charme, e utiliza detalhes da sua personalidade que o mostram para além do mero
Por exemplo, a sua relação com a família, pormenores que deixam ver que ele não será uma personagem merecedora de uma total censura da parte dos leitores.
Mas, sobretudo, é pelo humor dele que Emma Chase nos conquista por completo e nos faz acreditar no ponto de vista masculino que criou.
Outra causa quase tão importante é o par feminino de Drew, Kate, que não se rende até que ele comece a transformar a forma como usa os seus "poderes masculinos".
O facto dela ser uma mulher forte e decidida - e um pouco teimosa, é verdade - que prefere manter a sua indepência a criar desculpas para o comportamento de Drew é particularmente importante para equilibrar a tão famosa "guerra dos sexos" até que ela termine entre os lençóis.
Com estes dois personagens frente a frente perante tantos erros e tantos desacertos, o que Emma Chase consegue é levar a que Drew evolua e se vá tornando um pouco mais submisso sem deixar de ser ele mesmo.
Uma certa arrogância deliciosamente bem-humorada nunca desaparece mesmo se ele se rende - à paixão, entenda-se - e se torna numa melhor pessoa do que era quando a sua única fidelidade ia para os casos amorosos de uma noite só.
Emma Chase acabou por criar um romance erótico bastante forte do ponto de vista das mulheres, mesmo pela voz de um homem tão machista (a princípio).
Basta reparar nas lições que Drew dá à sua sobrinha, ditas com uma certa falta de sensibilidade masculina mas com toda a perspicácia de quem não a quer transformada numa das mulheres que lhe passaram pelas mãos.
A maneira como ele e a sobrinha falam sobre a Cinderela é algo que nunca me tinha ocorrido e são a causa de alguns dos risos mais fortes que este livro consegue proporcionar.
O que calha muito bem para compensar aquela dose de "lamechice" que é quase inerente à parte romanceada do "rapaz que conhece a rapariga mas que sofre por não a poder ter até que finalmente consegue ficar com ela".
E quando se combina o humor e o sexo, então, a coisa atinge mesmo proporções épicas de excitação (cuidado com as interpretações!) cómica.
Ora vejam lá este exemplo mesmo a fechar o livro, quando o casal já está entre os lençóis e ela exclama:

- Meus Deus! Oh, meu Deus!
Sorrio e acelero o ritmo.
- Não é Deus que te está a foder, querida.
Claro que estou apaixonado, mas ainda sou eu.
- Drew... Drew... isso... Drew!
Assim está melhor.






Autor: Emma Chase


Editora: TopSeller


Páginas: 256


Género: Romance Erótico

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Amante do Papa (Jeanne Kalogridis)

Um dos aspectos que mais rapidamente me captou a atenção foi o facto da sua narrativa ter como ponto de vista a aia de Catarina Sforza sem que ela sirva apenas como receptora dos desabafos da sua dama.
Tendo a sua própria história, o mistério da morte do seu marido que ela tentará resolver, Dea acaba por ser mais do que uma voz, é uma personagem condutora da narrativa e de muitas desobertas acerca da sua época.
Várias dessas descobertas do submundo do mundo por onde se move Catarina Sforza, mas acontecendo sempre em paralelo entre as duas mulheres.
Ambas têm aspectos de vida similares - o assassínio dos maridos de ambas, por exemplo - mas a autora reforça isso com o padrão de leitura das Cartas da Sorte que é coincidente entre as duas.
Assim ligadas, Dea será mais do que testemunha da vida de Catarina, contribuirá para as suas tomadas de decisão.
Admirando-a profundamente e querendo protegê-la, Dea usará ao máximo as suas capacidades, até vendo-as colocarem-se em confronto com a sua herança católica.
A autora tomou muitas liberdades históricas, em grande parte com o forte pendor místico que rege as duas mulheres protagonistas do livro e com a magia na mão de alguns elementos à sua volta.
Reconhecendo e aceitando essas liberdades ficcionais o que encontramos para além disso é uma descrição muito vívida da realidade do século XV Italiano.
Uma descrição sem medo da sua crueldade e dureza, usando-a muitas vezes como demonstração dos males, maioritariamente masculinos, que Catarina Sforza teve de enfrentar e que a levaram a moldar a sua personalidade de política e estratega ao nível feroz como o fez.
Nesse cenário ela insere um enorme conjunto de personagens intensas. Nem todas serão admiradas, nem naquele período da Renascença tal seria possível, mas nenhuma ficará esquecida pelo leitor.
Do jogo sangrento da política entre Sforza, Médici e Bórgia só pode resultar um envolvimento de leitura intensa.
Os estratagemas políticos que eram, afinal, parte subjacente a todas as decisões de vida de Catarina Sforza são o que nos convence de que estamos a ler uma história no coração da História.
Mesmo se, desta vez, há mais lugar à invenção do que o habitual.





Autor: Jeanne Kalogridis


Editora: Planeta Manuscrito


Páginas: 464


Género: Romance Histórico

domingo, 17 de agosto de 2014

Cine-Literatura

Na passada quinta-feira estreou o filme A Viagem dos Cem Passos que eu já tive oportunidade de ver e de que gostei bastante.
O livro que lhe deu origem já tinha sido publicado entre nós em 2011, pela Dom Quixote, mas sinceramente nunca me tinha chamado a atenção.
O bom de uma adaptação é isso mesmo, voltar a chamar a atenção para um livro, embora pelo contrário ver o filme sem ter lido o livro me torne um pouco avessa a vir a fazê-lo de todo.
É mais fácil ver um filme baseado num livro do que o seu contrário, na minha opinião, simplesmente porque o filme já molda algumas ideias que não se conseguem depois afastar das páginas escritas - a cara de Helen Mirren, por exemplo.
De qualquer maneira, o livro está aí com uma capa nova, relativa ao filme, muito embora até prefira a antiga capa!






Outro filme directamente relacionado com literatura é Tar, inspirado na poesia de C. K. Williams.
Embora o género de filme não me atraia, fiquei interessada na obra deste vencedor de um Pulitzer que parece não ter sido editado em Portugal.
Encontrei a sua TED Talk "Poetry of youth and age" já de 2001 onde ele lê slguns dos seus poemas.
Acho que há algo de muito mais intenso quando um poeta lê a sua própria obra, como se tivéssemos acesso à essência da mesma que só ele conhece.
Podem visioná-la ou fazer o seu download seguindo este link.
E deixo-vos com a transcrição do poema que dá nome ao filme.




Tar
The first morning of Three Mile Island: those first disquieting, uncertain,   
          mystifying hours.
All morning a crew of workmen have been tearing the old decrepit roof
          off our building,
and all morning, trying to distract myself, I’ve been wandering out to 
          watch them
as they hack away the leaden layers of asbestos paper and disassemble 
          the disintegrating drains.
After half a night of listening to the news, wondering how to know a 
          hundred miles downwind
if and when to make a run for it and where, then a coming bolt awake 
          at seven
when the roofers we’ve been waiting for since winter sent their ladders 
          shrieking up our wall,
we still know less than nothing: the utility company continues making 
          little of the accident,
the slick federal spokesmen still have their evasions in some semblance 
          of order.
Surely we suspect now we’re being lied to, but in the meantime, there 
          are the roofers,
setting winch-frames, sledging rounds of tar apart, and there I am, on 
          the curb across, gawking.

I never realized what brutal work it is, how matter-of-factly and harrow-
          ingly dangerous.
The ladders flex and quiver, things skid from the edge, the materials are 
          bulky and recalcitrant.
When the rusty, antique nails are levered out, their heads pull off; the 
          underroofing crumbles.
Even the battered little furnace, roaring along as patient as a donkey, 
          chokes and clogs,
a dense, malignant smoke shoots up, and someone has to fiddle with a 
          cock, then hammer it,
before the gush and stench will deintensify, the dark, Dantean broth 
          wearily subside.
In its crucible, the stuff looks bland, like licorice, spill it, though, on 
          your boots or coveralls,
it sears, and everything is permeated with it, the furnace gunked with 
          burst and half-burst bubbles,
the men themselves so completely slashed and mucked they seem almost 
          from another realm, like trolls.
When they take their break, they leave their brooms standing at attention 
          in the asphalt pails,
work gloves clinging like Br’er Rabbit to the bitten shafts, and they slouch 
          along the precipitous lip,
the enormous sky behind them, the heavy noontime air alive with shim-
          mers and mirages.

Sometime in the afternoon I had to go inside: the advent of our vigil was 
          upon us.
However much we didn’t want to, however little we would do about it, 
          we’d understood:
we were going to perish of all this, if not now, then soon, if not soon, 
          then someday.
Someday, some final generation, hysterically aswarm beneath an at-
          mosphere as unrelenting as rock,
would rue us all, anathematize our earthly comforts, curse our surfeits 
          and submissions.
I think I know, though I might rather not, why my roofers stay so clear 
          to me and why the rest, 
the terror of that time, the reflexive disbelief and distancing, all we should 
          hold on to, dims so.
I remember the president in his absurd protective booties, looking 
          absolutely unafraid, the fool.
I remember a woman on the front page glaring across the misty Sus-
          quehanna at those looming stacks.
But, more vividly, the men, silvered with glitter from the shingles, cling-
          ing like starlings beneath the eaves.
Even the leftover carats of tar in the gutter, so black they seemed to suck 
          the light out of the air.
By nightfall kids had come across them: every sidewalk on the block was 
          scribbled with obscenities and hearts.

domingo, 3 de agosto de 2014

O Bibliotecário (A.M. Dean)

Para mim um dos pontos mais interessantes d'O Bibliotecário é o facto de ser protagonizado por uma mulher.
Uma mulher jovem e atraente mas com uma carreira académica. Certamente que são raras as protagonistas neste género de conspiração que envolve muita aventura masculinizada.
Aqui também é o cérebro que prevalece, já que história exige mais da memória e da inteligência da protagonista do que das suas capacidades físicas.
Essa opção também ajuda a equilibrar um pouco a forma como o livro - e, em geral, todos os thrillers deste género - vai criando algumas situações impossíveis.
Essas situações é que levam os protagonistas à volta do mundo a conhecer e a dar a conhecer ao leitor locais extraordinários.
Nesse aspecto, as descrições dos vários lugares por onde passa a acção, sobretudo a moderna Bibioteca de Alexandria, são muito fortes, conpletas e vívidas.
Ainda mais fortes são os relatos históricos dos acontecimentos que afectaram a biblioteca original, dos relatos que se relacionam com os livros que dela desapareceram para depois serem avistados.
Esses são, sem sombra de dúvida, os pedaços mais excitantes deste livro, pois a História tem maravilhas que a imaginação não consegue atingir.
A inclusão da História na história enriquece-a e acaba por servir como segunda linha do livro que, além de uma aventura entretida, reflecte sobre o poder que os livros guardam e de como se pode confiar em quem controla o seu conhecimento.
Trazendo a Biblioteca de Alexandria das suas origens antigas à realidade de um mundo digital, o autor dá-nos um livro que deixa uma marca para além da leitura mais superficial.
E num reparo final, é um livro cheio de informação mas nem por isso demasiado longo ou com um ritmo lento. Será, por isso, capaz de satisfazer muitos públicos diferentes de maneira igual.




Autor: A.M. Dean


Editora: Clube do Autor


Páginas: 404


Género: Thriller

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Cine-Literatura

Esta semana estrearam nas salas portuguesas dois filmes baseados em livros já editados em Portugal. Ambos exemplos da literatura nórdica mas em géneros muitos diferentes.

O Guardião das Causas Perdidas do Dinamarquês Jussi Adler-Olsen beneficiará do efeito de prolongado sucesso em torno dos policiais chegados daquela zona da Europa.
Numa edição muito recente da Editorial Presença, acho que o filme chamará atenção para o livro e vice-versa.

Já O centenário que fugiu pela janela e desapareceu é uma edição de 2011 da Porto Editora e um livro que faz parte do Plano Nacional de Leitura.
Um livro de humor (negro) do Sueco Jonas Jonasson que não beneficiará muito de uma estreia muito discreta do filme.

Não tendo lido nenhum dos dois, confesso que para já estou mais interessada em ler o livro de Jonas Jonasson e em ver o filme baseado no livro de Jussi Adler-Olsen.
Sobretudo porque o efeito de ver o filme antes estraga um pouco o livro e o de Jonas Jonasson já está na minha lista há algum tempo e o filme volta, em boa hora, a chamar a atenção para ele.
E porque duvido que chegue a ler o policial, género que funciona melhor, para mim, no grande ecrã.






Carl Mørck não é o detetive mais popular da Divisão dos Homicídios de Copenhaga. Por isso, quando é criado o Departamento Q, com a missão de rever casos arquivados, Carl Mørck é designado para o dirigir.
O seu primeiro caso é o de Merete Lynggaard, uma deputada que desaparecera cinco anos antes sem que a polícia conseguisse mais do que conjeturar uma aparente tentativa de suicídio.
Toda a gente acha que ela está morta. Toda a gente diz que investigar o sucedido é uma perda de tempo. Mas, à medida que Carl Mørck começa a seguir as pistas que o seu colega havia descartado aquando da investigação inicial, descobre um caso com contornos inesperados e profundamente sinistros...








No dia em que Allan Karlsson celebra 100 anos, toda a cidade o aguarda para uma grande festa em sua honra. 
Mas Allan tem outros planos… Morrer de velho? Sim, mas não ali!
Munido de um par de chinelos gastos, joelhos empenados e uma ousadia tremenda, Allan lança-se numa extraordinária aventura, arrastado numa torrente de equívocos e golpes de sorte.
E ao mesmo tempo que acompanhamos a sua última viagem (ou será que não?), conhecemos o seu passado, perdido entre guerras, explosões e mulheres fatais – qual delas a mais perigosa!
Uma estreia literária impressionante que conquistou centenas de milhares de fãs.


domingo, 27 de julho de 2014

Sou um Clandestino (Susanna Tamaro)

Uma narrativa breve guiada pelos passos de um homem ainda jovem que, solitário, se procura a si mesmo procurando as origens da sua família.
O que ele espera é que o Passado responda aos seus problemas actuais, os traumas da infância a virem a apontar uma nova luz aos problemas existenciais.
Ele é um homem vivendo em aparente normalidade mas com um constante sentimento de inadaptação.
Talvez seja em parte um eterno descontente, mas as tragédias do seu Passado, como a irmã que morreu atropelada, e os percalços do seu Presente, como uma namorada que exige demais dele sem lhe dar em igual medida, tornam-no propenso a uma existência dolorida.
São as marcas que lhe ficam na psique que o encaminham para a inevitabilidade da insatisfação actual.
O percurso que ele faz é uma fuga. Se é verdade que ele vai dos seus problemas actuais para ir confrontar os problemas da sua infância, enquanto está em viagem - quase sem bagagem - ele está a afastar-se desse amor que lhe faz tão mal.
O texto reflecte intensamente sobre os males que afectam o ser humano, tentando com isso fazer igualmente uma parábola da Europa que o protagonista percorre.
Os males que aconteceram antes e os males que estão para vir, tudo num texto que procura uma alcançar uma certa poesia enquanto explora a "filosofia do homem comum".
Este é o primeiro livro da autora, por publicar há décadas, e ainda tem as marcas desse primeiro esforço que merecia ter sido retrabalhado para agora ser publicado.
Isso nota-se, sobretudo, na imperfeita articulação com o resto do texto dos capítulos em analepse que quebram o fluxo da narrativa.
Até porque, analisando bem, eles apenas revelam um passado que já íamos conhecendo através das reflexões do próprio viajante.
Pelo contrário, não ter sido retrabalhado permite que o texto guarde uma força em bruto que tem tudo para surpreender os leitores, para os capturar na leitura.
Há também uma certa beleza nessa forma de escrever de forma desabrida, colocando a autora um pouco mais de si do que é habitual no texto.
Uma leitura com méritos e que apelará sobretudo aos maiores fãs da autora que queiram compreender o seu percurso desde o início.




Autor: Susanna Tamaro


Editora: Editorial Presença


Páginas: 280



Género: Romance

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Inferno no Vaticano - Vencedor do passatempo




Peço imensa desculpa a todos pela ausência e consequente demora na revelação do nome do vencedor deste passatempo.
Problemas pessoais afastaram-me da maioria das tarefas que tinha em mão mas espero que este regresso no Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor seja um bom pronúncio.


E num dia tão especial para os leitores, aquele que terá uma boa notícia adicional é...


Mónica Familiar

quarta-feira, 19 de março de 2014

Inferno no Vaticano - Passatempo



Depois de ter tido a possibilidade de fazer a crítica a Inferno no Vaticano, tenho o enorme prazer de oferecer um exemplar deste livro que mostra bem como a inventividade dos escritores portugueses merece a nossa atenção.

Para se habilitarem a este exemplar do livro de Flávio Capuleto têm de responder à pergunta abaixo até ao final do dia 27 de Março.

Podem conseguir uma hipótese adicional de ganharem o prémio se fizerem um Like no Facebook do Páginas com Memória e partilharem publicamente o post do passatempo.

Boa sorte a todos e, sobretudo, boas leituras!




Regras do passatempo

1) Preencher todos os dados solicitados correctamente.
2) Apenas participantes com moradas de Portugal.
3) Apenas uma participação por cada nome, email e morada.
4) O não cumprimento da regra 3) poderá levar a exclusão em passatempos futuros.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Inferno no Vaticano (Flávio Capuleto)

Inferno no Vaticano vai ficar nas prateleiras das livrarias ao lado dos livros de Dan Brown e dos vários outros autores que utilizam o mesmo estilo e exploram as mesmas temáticas com potencial polémico.
Mas não me parece que se comparem, pois na verdade Flávio Capuleto está menos interessado em explorar temas quentes e mais interessado em reflectir.
Basta dar atenção a como este livro investe mais nos diálogos, que são discussões com muitos argumentos e sempre escritas de forma muito cuidada, do quenas cenas de acção e investigação.
Isso mostra a diferença que este livro tem para os outros que referi e que é a intenção de discutir os temas em vez de os tornar em teorias que desafiam a realidade e que ainda querem fazer passar a ideia de que há muitas conspirações em todos os recantos do Vaticano.
Em cada discussão os dois lados surgem e podem mostrar-se ao leitor. E nota-se que Flávio Capuleto até está mais interessado em analisar as novas opções do Papa Francisco do que nessas teorias da conspiração.
Claro que nesta história há um tesouro secreto envolvido nos crimes entre conservadores e reformistas, mas tirando um ou outro extremista os grupos lutam mais na discussão entre a ajuda que a Igreja Católica pode dar à Europa em crise e a conservação do ouro para necessidades futuras.
O interessante é que isso tudo acontece no meio de uma investigação policial feita com bastante eficácia e que mantém o interesse do leitor vivo.
A história tem momentos emocionantes e o papel do detective português é essencial, directo às questões e não se perdendo em mistérios exagerados.
Não há cenas de acção a cada meia dúzia de capítulos, apenas a actuação discreta mas eficaz que esperamos da polícia.
Não posso deixar de destacar, ainda, as cenas "quentes" escritas pelo autor. Bem escritas, que é muitas vezes coisa rara entre os autores destes thrillers.
São cenas que ocupam um lugar de destaque numa história que tem que ver com temas religiosos e isso deve louvar-se, pois assim tanto a alma como o corpo fazem parte deste livro.
Um livro bem interessante, sobretudo por ser diferente do que se estará à espera depois de ser ler o título quase bombástico.




Autor: Flávio Capuleto


Editora: Guerra & Paz


Páginas: 280


Género: Thriller

quinta-feira, 13 de março de 2014

Uma História de Amor Eterno (Sebastian Cole)

O Amor é a força mais importante entre aquelas que fazem mover a Humanidade. Mas não há maneira de viver apenas desse tão grande sentimento.
Se o Amor pode ser eterno, nascido daquele encontro improvável e extraordinário de duas pessoas destinadas uma à outra, não consegue escapar ao facto dessas duas pessoas terem de viver dia a dia.
Para descobrir se o Amor que sentem é, realmente, eterno, têm de investir a vida inteira nele. Apontar ao futuro enquanto enfrentam cada momento presente.
Enfrentando problemas vários, descobrindo-se uma à outra tão ao pormenor que a perfeição deixa de o ser, vendo a relação ser afectada pelo que chega do exterior dela.
A história de Noah e Robin é exactamente assim, a tal ponto que o seu tempo juntos é interrompido para depois arriscarem voltar a estar juntos no momento em que isso parece já improvável.
Nem um nem outro deixam de se amar, mas não conseguem estar juntos como esperariam. Da cena mágica do seu encontro até ao afastamento de 13 anos a sua relação é um emocionante trilho de emoções, sempre inesperado a cada curva, com obstáculos e partes simples de percorrer.
A sua relação adapta-se a cada momento e com ela as personagens evoluiem, conseguindo o autor dar-lhes uma vida que é realista.
Cria-se uma relação muito intensa com Noah e Robin, vive-se com eles aquilo em que eles se transformam.
Não se consegue gostar de ambos durante todo o livro, cada um tendo momentos em que nos exasperam, outros em que nos comovem. Momentos em que são extraordinários e outros que parecem não merecer qualquer benefício da nossa parte.
No final, acabaremos por gostar de ambos, claro! Mas até lá temos de os rejeitar e de os entender em partes iguais.
Admiro um autor que consegue criar personagens assim tão tridimensionais, daquelas que durantes a leitura do livro nos parecem reais e que depois do livro acabado insistem em ficar na nossa memória.
Admiro ainda mais o autor quando consegue tudo isso logo na primeira obra, como se fosse já muito maduro de tantos livros que foi escrevendo!
Com estas personagens que o autor tão bem criou acabaremos por aprender sobre muito mais do que o amor.
Teremos mesmo de reflectir sobre o fim da vida, sobre questões da Alma, sobre até que ponto podemos levar o amor para justificar as decisões que fazemos a propósito do nosso par.
A história de amor de Noah e Robin tem a duração que deixa espaço a uma série de lições de vida e tem os problemas que permitem olhar para a essência do ser humano.
Mais bela é por causa disso, pela maneira como à escala de cada um de nós poderá ressoar e ensinar a viver tanto grandes histórias de amor como o quotidiano amoroso.




Autor: Sebastian Cole


Editora: Editorial Presença


Páginas: 264


Género: Romance

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Rainha dos Sipaios (Catherine Clément)

A Rainha dos Sipaios conta-nos a história de Lakesemi Bei, uma rainha indiana que teve a coragem de enfrentar os Ingleses para defender a independência da Índia.
A narração acompanha esta mulher desde o nascimento e até à morte que acabaria por ditar que a Índia perdesse a sua independência.
O retrato que a autora faz dela mostra-a primeiro como rapariga e (depois) mulher, sem que nunca ela deixe de ser extraordinária aos olhos do leitor.
Laksemi, ou Chabali como gostava de ser chamada, mostra-se uma mulher complexa cujas acções, logo desde criança, prenunciam o que serão os seus feitos e que a tornarão um ídolo cantado até hoje.
Uma menina arrapazada que desde cedo se mostra diferente das outras. Recusa-se a ser submissa aos pais e em criança brinca e tem aulas com rapazes.
Mesmo quando na adolescência se torna rainha num casamento por conveniência, ainda jovem se torna mãe e assume a luta contra os imperialistas britânicos.
Fá-lo envergando a roupa que pertencia ao seu marido que, como ela descobre, prefere envergar roupas femininas.
Se o astrólogo da família previra que o casamento de Lakesemi seria com um homem diferente do habitual, não esperaria que esse casamento envolvesse uma troca de papéis que permitissem a Lakesemi assumir o papel para que a sua personalidade a impelia e que nunca poderia assumir por culpa do seu género.
A sus simplicidade e a sua coragem tornam-na mais capaz para ser a guerreira que lidera a Revolta dos Sipaios, ainda que a autora não deixe de a descrever como uma bela mulher.
Pois se é apesar da pertença ao género feminino que ela alcança os enormes feitos, é também por ele que estes se tornam míticos num país onde as restrições se acumulavam contra as mulheres.
A complexidade do retrato de Chabali aumenta com a do próprio país sobre o qual reina, pois se ela foi a líder da revolta, também era a ela que os Ingleses respeitavam enquanto soberana.
Era ela que negociava com esse povo que a tentava dominar, tal como acabou por ser ela a primeiro combater os seus intentos. Talvez ela fosse a própria súmula de como a Índia tanto desejava a influência Inglesa como detestava que esta fosse demasiada.
Esse é outro aspecto de enorme valia do livro de Catherine Clément, que com uma linguagem cuidada mas acessível trata de conjugar a biografia de Lakesemi Bei com uma compreensão do país em que ela se movia.
Unidos à vida de Lakesemi Bei, todos os acontecimentos, por mais inusitados que tenham sido, parecem decorrer da natural forma de estar daquela mulher naquele país.
A autora faz-nos mergulhar nas tradições milenares da Índia, fazendo-nos compreender questões que nos parecem tão erradas como as das castas ou dos rituais Satis (viúvas que se imolam pelo fogo para se encontrarem na próxima vida com os maridos).
A autora demonstra que fez uma pesquisa prodigiosa e que tanto quanto se "envolveu" com Lakesemi Bei, se apaixonou pela própria Índia, apesar dos seus defeitos e problemas.





Autor: Catherine Clément


Editora: Porto Editora


Páginas: 280


Género: Romance Biográfico

Uma História de Amor Eterno - Vencedor do passatempo




Obrigada a todos os participantes de mais este passatempo que fizemos com a Editorial Presença. Aqui fica o nome de quem vai receber o livro em casa.

Susana Paula Da Silva

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A Arte dos Livros (3)



Estas são apenas duas das imagens que Mladen Penev, um designer búlgaro, criou sob o título The Power of Books.

A minha preferência vai, obviamente, para a de cima, com a beleza mágica a elevar-se do livro, mas a de baixo fala bastante bem sobre a luta do livro no mundo moderno.

Descubram mais sobre este projecto visitando o site.