Este é um livro que orbita em torno da doença que é o cancro e, no entanto, é difícil dizer que é um livro sobre esse tema.
A sua frontalidade - que por vezes parece conter um toque de brutalidade apenas porque os tópicos assim o ditam - trata tanto dos temas que nos despertam as melhores emoções como dos que nos despertam as piores.
Cancro, violência, dedicação, sacrifício, superprotecção e Amor (assim mesmo, com letra maiúscula e em todas as suas formas).
Costuma dizer-se que há livros que são uma montanha-russa de emoções e este é um deles, certamente, um resumo de tudo o que a vida contém em capítulos muito intensos.
Capítulos que vão passando de voz em voz entre Luísa, Pedro e Tiago.
Luísa é a grande sofredora deste livro. Pedro o seu irmão e Tiago o seu companheiro e ambos lhe vão demonstrar que ela é também uma afortunada, em certa medida.
São importantes as mudanças de perspectiva para compreender como se reage a tão intensa doença sofrendo dela ou acompanhando quem dela sofre.
A compreensão do difícil que é conciliar todas aquelas visões do momento que se está a viver é importante para perceber como as pessoas podem sucumbir à pressão da realidade, mas ainda mais importante para perceber o quanto as personagens do livro, sobretudo Pedro, são capazes de descobrir e dar de si em favor dos outros.
As três personagens tornam-se muito vívidas e interligadas na nossa mente ao longo dos capítulos, mas há também uma sugestão de que Tiago está sempre ligeiramente de fora em relação à intimidade maior dos dois irmãos.
Isso é sugerido em grande parte pelo seu ser o único testemunho que não é feito na primeira pessoa e faz sentido na história porque o seu percurso de infância é precisamente o oposto da de Luísa e Pedro, embora os resultados práticos se aproximem: os três acabaram por ter de arrancar as suas próprias personalidades das prisões em que os seus progenitores os colocaram.
Tiago conquista o seu lugar no espaço das relações dos dois irmãos por tudo o que faz, para além de pelo próprio Amor que sente e faz sentir.
Mas está de certa forma sempre a olhar de fora para dentro, no que torna ainda mais complexo o retrato que Ana Casaca criou num trio de relações que costuma ser muito propício para a ficção.
Como esse triângulo surge depois da autora ter relatado as infâncias dos três, a verdade é que as relações são mais credíveis à conta de composições que vêm dos momentos mais marcantes da vida, as grandes impressões que vêm desde a infância e das escolhas precoces que as crianças têm de tomar.
Luísa é, em todos os aspectos mas nesse ainda mais intensamente, marcante pelo que fez pelo irmão mais do que por ela própria.
Podem ser os pequenos momentos, como o encontro na praia que lhe revelou o amor, que deixam uma lembrança agradável sobre a vida, mas são as decisões temerárias que definem rumos.
E o rumo dela traça depois o rumo deles. A decisão que ela outrora tomou leva-os a todos à maneira como enfrentam o cancro que é apenas uma mais adversidade e nunca altera o que eles são ou querem ser.
Estas personagens crescem e superam-se perante nós e conquistam-nos. Visto que a história é baseada em relatos reais, espero que as verdadeiras pessoas por detrás da ficção sejam igualmente marcantes para quem as conhece e, sobretudo, que recebam muito mais da Vida!
Autor: Ana Casaca
Editora: Guerra & Paz
Páginas: 328
Género: Romance
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