A Rainha dos Sipaios conta-nos a história de Lakesemi Bei, uma rainha indiana que teve a coragem de enfrentar os Ingleses para defender a independência da Índia.
A narração acompanha esta mulher desde o nascimento e até à morte que acabaria por ditar que a Índia perdesse a sua independência.
O retrato que a autora faz dela mostra-a primeiro como rapariga e (depois) mulher, sem que nunca ela deixe de ser extraordinária aos olhos do leitor.
Laksemi, ou Chabali como gostava de ser chamada, mostra-se uma mulher complexa cujas acções, logo desde criança, prenunciam o que serão os seus feitos e que a tornarão um ídolo cantado até hoje.
Uma menina arrapazada que desde cedo se mostra diferente das outras. Recusa-se a ser submissa aos pais e em criança brinca e tem aulas com rapazes.
Mesmo quando na adolescência se torna rainha num casamento por conveniência, ainda jovem se torna mãe e assume a luta contra os imperialistas britânicos.
Fá-lo envergando a roupa que pertencia ao seu marido que, como ela descobre, prefere envergar roupas femininas.
Se o astrólogo da família previra que o casamento de Lakesemi seria com um homem diferente do habitual, não esperaria que esse casamento envolvesse uma troca de papéis que permitissem a Lakesemi assumir o papel para que a sua personalidade a impelia e que nunca poderia assumir por culpa do seu género.
A sus simplicidade e a sua coragem tornam-na mais capaz para ser a guerreira que lidera a Revolta dos Sipaios, ainda que a autora não deixe de a descrever como uma bela mulher.
Pois se é apesar da pertença ao género feminino que ela alcança os enormes feitos, é também por ele que estes se tornam míticos num país onde as restrições se acumulavam contra as mulheres.
A complexidade do retrato de Chabali aumenta com a do próprio país sobre o qual reina, pois se ela foi a líder da revolta, também era a ela que os Ingleses respeitavam enquanto soberana.
Era ela que negociava com esse povo que a tentava dominar, tal como acabou por ser ela a primeiro combater os seus intentos. Talvez ela fosse a própria súmula de como a Índia tanto desejava a influência Inglesa como detestava que esta fosse demasiada.
Esse é outro aspecto de enorme valia do livro de Catherine Clément, que com uma linguagem cuidada mas acessível trata de conjugar a biografia de Lakesemi Bei com uma compreensão do país em que ela se movia.
Unidos à vida de Lakesemi Bei, todos os acontecimentos, por mais inusitados que tenham sido, parecem decorrer da natural forma de estar daquela mulher naquele país.
A autora faz-nos mergulhar nas tradições milenares da Índia, fazendo-nos compreender questões que nos parecem tão erradas como as das castas ou dos rituais Satis (viúvas que se imolam pelo fogo para se encontrarem na próxima vida com os maridos).
A autora demonstra que fez uma pesquisa prodigiosa e que tanto quanto se "envolveu" com Lakesemi Bei, se apaixonou pela própria Índia, apesar dos seus defeitos e problemas.
Autor: Catherine Clément
Editora: Porto Editora
Páginas: 280
Género: Romance Biográfico
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