Quando pensamos em Erzsébet Báthory a primeira coisa que inegavelmente nos vem à cabeça é a imagem lendária de uma mulher que toma banhos de sangue para não envelhecer. Ora essa imagem pertence muito mais à lenda do que à história, não havendo nenhuma prova, nem nenhuma referência no seu julgamento que indique que a condessa tomava realmente banho em sangue de donzelas.
Quando comecei o livro esperava uma de duas versões: que Erzsébet Báthory nos fosse apresentada realmente como um monstro sem sentimentos que matava rapariguinhas a sangue frio por prazer ou uma versão completamente contrária, em que seria uma mulher inocente erradamente acusada dos horrendos crimes de que a culpavam em função de interesses económicos e políticos.
No entanto, a autora escolheu um caminho muito mais difícil, o de mostrar a condessa como uma assassina mas, ao mesmo tempo, como uma mulher repleta de sentimentos, uma filha dedicada, uma mulher apaixonada e uma mãe extremosa. O que é uma dicotomia muito complicada de conseguir mas que a autora conseguiu na perfeição.
De facto, autora consegue que o leitor efectivamente simpatize e goste de Erzsébet. Não apenas, por ser uma das mulheres mais belas, inteligentes e cultas do seu tempo, mas principalmente porque há sempre nela uma espécie de fragilidade que lhe dá muita humanidade ao contrário do que seria de esperar da maior assassina em série de todos tempos. E ironicamente é essa fragilidade e falta de controlo dos seus sentimentos que a levam a cometer as atrocidades que comete.
Para entendermos Erzsébet temos de entender a sua época e a maneira de pensar da altura que a autora consegue captar glamorosamente com a descrição dos castelos, dos trajes e jóias de personagens e ao descrever de detalhadamente a forma de pensar de Erzsébet na primeira pessoa.
Ora Erzsébet não é uma mulher vulgar, pertence à alta nobreza cuja a família está ligada à realeza. Logo bater ou castigar os criados para alguém da sua condição era naquele tempo considerado normal e necessário. E ao longo da minha leitura não consegui deixar de sentir uma certa simpatia e pena relativamente a Erzsébet com as atitudes dos seus criados. Porque ela tinha sobretudo criadas com um feitio terrível, desde raparigas que faziam abertamente pouco dela por marido não dormir com ela, a outras que se vangloriavam de terem dormido com o seu marido ou dos seus posteriores amantes e de terem filhos deles, passando por criadas que roubavam e se recusavam a cumprir as suas obrigações.
O que não justifica os seus actos mas certamente nos permite entender parte deles. Quando Erzsébet castigava as criadas, sobretudo ao início, não tinha qualquer intenção de as matar. Aliás não noto nela sadismo mas sim um grande descontrolo de raiva e ciúmes que chegaram a raiar a loucura à medida que foi envelhecendo.
Mas este é apenas um dos lados de Erzsébet pois desde de cedo ela é-nos mostrada como alguém muito sensível e sentimental, com um grande afecto pelos pais e extremamente maternal com as irmãs e primos mais jovens. Quando cresce torna-se uma amante apaixonada e dedicada, bem mais leal que os homens que foram cruzando a sua vida. E, sem dúvida, uma mãe com um amor cego e enorme pelos filhos como se pode notar nas memórias que escreve para o seu filho varão.
A autora foi capaz criar uma personagem complexa e multifacetada que nos consegue inspirar os mais diversos sentimentos extremos desde simpatia, ternura ou pena, a medo e horror. Uma leitura envolvente e apaixonante indispensável para entender uma das maiores lendas da História.
Autor: Rebecca Johns
Editora: Edições Asa
Páginas: 336
Género: Romance Histórico
Páginas: 336
Género: Romance Histórico
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