Pôncio Pilatos é um nome que quase todas as pessoas, que têm alguma educação ou ligação à Igreja Católica, conhecem ou não fosse um personagem chave duma das histórias mais conhecidas do mundo: a condenação e crucificação de Jesus.
Mas a verdade é que sabemos muito pouco sobre esta personagem que ficou conhecida pelo seu gesto emblemático de lavar qualquer culpa das suas mão e deixar o destino de Jesus nas mãos do seu povo (os judeus).
Ora este livro vem mostrar-nos em maior profundidade quem foi, de facto, este homem mas não na forma normal de um romance histórico. Tem uma forte linguagem lírica, sendo a maior parte do livro prosa poética. A ordem temporal também não apresenta qualquer sequência lógica derivando ao sabor da memória de Pilatos: ora anda para trás ou para frente, às vezes tornando ao leitor difícil acompanhar o seu movimento.
Não é um romance para quem apenas gosta do típico romance histórico, que geralmente será mais fácil de ler. Este livro exige um leitura mais atenta e contemplativa. Diria mesmo que lê-lo é quase como apreciar um poema, se o lermos depressa e superficialmente é provável que percamos a sua essência e a maior parte da sua beleza. O mesmo acontece com este livro.
Este livro apresenta-nos também uma imagem muito mais favorecedora de Pilatos do que a versão bíblica, mostra-nos mais do que um homem cínico que lava as mãos de qualquer culpa e responsabilidade, mostra-nos um homem arrependido, torturado pelo peso da sua culpa, que quer alcançar paz antes de morrer e, para tal, vai escrevendo num Evangelho a sua própria versão da morte e nascimento de Jesus. O que aos olhos do leitor o torna sem dúvida um personagem com quem é muito mais fácil criarmos empatia e que irremediavelmente desperta o nosso sentimento de compaixão.
Outra personagem chave do livro é Cláudia, a esposa de Pôncio Pilatos, que é uma seguidora de Jesus e que tem como dom a premonição, que por vezes é mais atormentadora do que reconfortante. Ela tem uma ligação profunda com o marido e de certa maneira funciona como parte da consciência dele.
Recomendo vivamente para os leitores que tiverem dispostos a lê-lo com o espirito aberto e apreciador de forma a poderem dar ao livro o grande valor que tem de facto.
Autor: Paula de Sousa Lima
Editora: Casa das Letras
Páginas: 224
Género: Romance Histórico
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