Quando lemos o título da Marquesa de Alorna e desconhecemos a mulher por trás de tal nome, julgamos que se trata de qualquer mulher nobre que passou uma vida desafogada, glamorosa e sem qualquer tipo de dificuldades. No entanto Leonor teve uma vida muito mais difícil mas, porém, muito mais interessante do que pudemos julgar à primeira vista.
Após uma pesquisa exaustiva de 7 anos sobre esta personalidade ímpar da nossa cultura, a escritora oferece-nos um livro de quase 700 páginas sobre a mulher que viveu no mesmo espaço que ela e de quem cresceu a ouvir histórias.
A história de Leonor não começa da melhor das formas. Em criança assiste ao terrível terramoto que destrói uma grande parte de Lisboa. Mas as desgraças da vida de D. Leonor não se ficam por aqui e aos 8 anos, devido ao parentesco da sua família com os Távora, ela , a mãe e a irmã são encerradas num convento em Chelas. Isto contribui enormemente para uma grande mudança de rumo na vida da personagem.
O despotismo a que é sujeita, juntamente com a sua família, desde tão tenra idade cria nessa criança um ódio por todos os tipo de opressão que a acompanhará ao longo de toda a sua vida. No entanto, a sua vida no convento como a autora nos sabe habilmente demostrar não era só feita de desgraças. O cárcere conventual contribui que para que a marquesa tivesse uma educação primorosa, aprendesse várias línguas, estudasse filosofia, poesia e pintura. O que demonstra bem a importância dada à educação nos conventos em Portugal no final XVIII.
Não se trata aqui apenas de um retrato de Leonor de Almeida mas de todo um país que apesar da ditadura de Pombal florescia intelectualmente. E a escritora consegue retratar a vida conventual de Leonor de forma mestra principalmente para quem não tem uma formação em História.
A sua mãe adoece durante a estadia no convento e o pai escreve-lhes cartas da sua prisão, cartas a que Leonor começa a responder desde muito jovem. No entanto, é ainda no convento que escreve os seus primeiros poemas. Apesar da situação desgraça da família. Leonor torna-se uma peça chave do convento e é querida para a maior parte das religiosas.
É libertada, já em idade adulta. Tinha vinte e sete anos e com a sua beleza, o seu intelecto e a sua graça, para lá da sua trágica história, torna-se uma das grandes atrações da corte de D. Maria I. Encontra o amor junto de um conde austríaco e casa com ele mesmo contra a vontade dos pais porque o coração de Leonor não se deixa governar senão por ela mesma.
A sua vida retratada ao longo desta páginas é uma verdadeira odisseia em que convive com reis, imperadores, até com o próprio papa e com a maior elite intelectual europeia. Passa por França, Inglaterra e Áustria, tem 8 filhos e em todas as cortes pelas quais passa destaca-se pelo seu intelecto e brilhantismo.
E para quem pensa que isto é o final da sua história, esta é apenas uma parte da vida de Leonor de Almeida, uma personagem que nos é apresentada pelo a autora como uma mulher muito à frente do seu tempo. Apesar do relato brilhante de um tempo turbulento em Portugal e na Europa descrito no livro pela autora assim como uma grande riqueza a nível de personagens do livro é sempre Leonor que nos “grita” em cada página do livro, que se destaca pelo seu temperamento forte, alma rebelde, teimosia, curiosidade, intelecto, e progressismo.
Mais facilmente reconhecemos nela uma mulher nossa contemporânea. Com o seu gosto pelas letras e artes, com o cuidado que dedicava aos filhos, com a preocupação que mostrava pela igualdade das mulheres e devida educação, com a sua recusa em baixar os braços perante as dificuldades com que se deparou, ela encarna na perfeição o tipo de mulher ideal que se procura ser na actualidade e afasta-se do que se esperaria de uma mulher que nasceu no século XVIII.
Por vezes envolvi-me tanto nestas características da personagem que dava por mim a imaginar D. Leonor no presente e não há 200 anos atrás.
Um romance histórico que nos relata de forma única e intimista a vida de uma mulher extraordinária que bem pode servir de modelo às mulheres e homens actuais, pois é difícil ultrapassar o exemplo de vida e carácter que D. Leonor de Almeida nos deixou.
Autor: Maria João Lopo de Carvalho
Editora: Oficina do Livro
Páginas: 688
Género: Romance Histórico